Em meio ao cenário de instabilidade política típico de períodos eleitorais, empresas estatais de países em desenvolvimento têm maior dificuldade em administrar estratégias de internacionalização. Trocas, ou mesmo manutenção de governos, representam novos rumos para a política e economia do país, gerando restrições na disponibilização de recursos a organizações e preferência por investimentos no próprio país, como a abertura de vagas locais para atrair eleitores. Nesse contexto, quando comparadas a propriedades inteiramente privadas, essas empresas estão mais propensas a reduzirem seus investimentos em atividades internacionais.
A análise está em artigo da pesquisadora da FGV EAESP, Marina Gama, em colaboração com demais autores, na revista Global Strategy Journal. Para verificar o impacto das eleições políticas de países em desenvolvimento na atividade de empresas estatais, os autores analisaram o investimento internacional de 89 multinacionais brasileiras com propriedade estatal indireta, de 2000 a 2012 – período em que o Brasil teve três eleições políticas.
Além da menor probabilidade de investirem em expansão fora do país em anos eleitorais, as companhias que decidem por internacionalizar priorizam maior flexibilidade nas atividades. Elas são mais propensas a investirem internacionalmente, por exemplo, em estruturas de serviço de apoio ao cliente – que oferecem menos riscos e custos do que fábricas, por exemplo. Ainda, em períodos eleitorais, essas empresas tendem a assumir o controle total das aplicações estrangeiras, evitando possíveis instabilidades em negociações com terceiros.
Os pesquisadores ainda sugerem que, para garantir autonomia financeira às corporações durante eleições políticas, os administradores devem incluir o período eleitoral no planejamento estratégico da companhia a longo prazo. Assim, a gestão pode se organizar para atender aos interesses próprios e do estado e, ao mesmo tempo, minimizar possíveis prejuízos e limitações financeiras trazidas pelo momento.