Luis Felipe Pinheiro, doutorando do Programa de Doutorado Profissional em Administração de Empresas (EAESP – FGV). Sócio-administrador da Tavares Pinheiro Industrial, Usina de Asfalto Jundaí, TNBV Empreendimentos e 3Pinheiros Participações.
Já ouviu falar da Lei de Price? Ela diz que a raiz quadrada dos operadores é responsável por metade dos resultados. Mais claramente ? Ela diz que se você, por exemplo, tiver uma empresa com 10.000 funcionários, apenas 100 deles são responsáveis por metade do faturamento. Uma empresa desse porte pode facilmente faturar seis bilhões de reais por mês, ou seja, três bilhões de reais veem de apenas 100 pessoas. A lei de Price, hoje em dia, é uma realidade em empresas, times da NBA ou da Champions League, e até mesmo na sua casa.
A inteligência artificial está assombrando o mundo, mas o seu potencial de produtividade pode fazer com que a Lei de Price se torne algo extremamente comum. Atualmente, o número de empresas ativas no Brasil é de aproximadamente 23 milhões, praticamente uma empresa a cada dez brasileiros. E se, com a produtividade que a inteligência artificial pode nos dar, saltarmos para 100 milhões (uma a cada 2 brasileiros) ? Imagine que legal se a sua empresa estiver no grupinho daquelas da Lei de Price, faturando metade de tudo. Mas se ela não estiver, talvez não seja tão legal assim.
Da mesma forma, a inteligência artificial tem o potencial de aumentar significativamente o PIB brasileiro, principalmente por conta do mesmo aumento de produtividade que estamos falando. Porém, vemos notícias diariamente sobre as possíveis demissões em massa e extinção de empregos que ela pode gerar. Através da história, podemos entender que as grandes revoluções foram benéficas para a humanidade no longo prazo, mas, no curto prazo, uma boa parcela da sociedade contemporânea à revolução é negativamente impactada. Vejamos, por exemplo, a Revolução Industrial que colhemos os bons frutos dela até hoje. Entretanto, durante a segunda metade do século XVIII, a maior parte dos artesãos e agricultores se viram desempregados da noite para o dia, obrigados a se deslocarem para os centros urbanos para aprenderem a trabalhar na indústria, para evitar que fossem considerados inúteis pelo mercado.
Gostaria agora de pedir licença e mencionar três pessoas que podem nos ajudar na conversa. Primeiro, eu tenho um amigo campeão olímpico de matemática que dava aula para uma criança que tinha o espectro autista. Ele se desdobrava, todas as vezes, para arrumar algum jeito de dar aula de uma forma que chamasse a atenção do seu especial aluno. Sua capacidade de adaptação tinha que ser impecável, sempre, para poder conquistar a atenção do seu amiguinho.
O segundo é Alexander Hamilton. Ele é um dos “Pais Fundadores” dos Estados Unidos, junto com George Washington, Benjamin Franklin, John Adams e outros grandes. Entretanto, Hamilton tinha apenas 21 anos de idade no dia da assinatura da Declaração de Independência dos EUA. Ele foi pai de uma nação antes mesmo de ser pai do seu primeiro filho, que nasceu praticamente seis anos após a declaração de independência. Hamilton, com 21 anos de idade, foi o primeiro Secretário do Tesouro dos Estados Unidos.
O terceiro é Hernán Cortés, considerado um dos maiores conquistadores da notável safra de espanhóis do período das Grandes Navegações. Ao chegar no território que hoje é o México, Cortés ordenou que seus homens queimassem sua esquadra de embarcações para que fosse eliminada qualquer possibilidade de retorno, restando como única opção avançar no território desconhecido e derrotar o lendário império Asteca.
Estamos entrando na era da inteligência artificial. Temos pela frente, provavelmente, o maior desafio de toda nossa história.Eu tento acreditar que, no final das contas, estaremos muito melhores do que piores. Mas, não sei dizer o que realmente vai acontecer. Certeza é que se tivermos a capacidade de adaptação do meu amigo campeão olímpico de matemática para enfrentar todas as novas situações que irão aparecer, junto com a coragem de Hamilton para sermos capazes de aceitar um desafio do tamanho de uma nação, e o ímpeto de vitória de Cortéz como a única opção que nos resta (o que realmente é verdade), aumentaremos exponencialmente nossas chances de vencer.
Texto originalmente publicado no blog Gestão e Negócios do Estadão, uma parceria entre a FGV EAESP e o Estadão, reproduzido na íntegra com autorização.
Os artigos publicados na coluna Blog Gestão e Negócios refletem exclusivamente a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, a visão da Fundação Getulio Vargas ou do jornal Estadão