Rodrigo Rocha Gimenez, Aluno do Doutorado Profissional em Administração da FGV EAESP, Executivo de Estratégia e Transformação.
A Inteligência Artificial (IA) deixou de ser mera tecnologia de suporte para se tornar peça fundamental na elaboração de estratégias de negócio. Em um cenário cada vez mais complexo, marcado por rápidas inovações e pela necessidade de decisões assertivas, as empresas que incorporam a Inteligência Artificial de forma consistente e responsável tendem a construir uma vantagem competitiva sustentável. No entanto, o uso indiscriminado de algoritmos pode levar a riscos éticos, problemas de conformidade e crises de reputação. Daí a importância de uma governança robusta que alinhe interesses, estabeleça diretrizes claras e garanta resultados confiáveis.
No âmbito estratégico, a IA possibilita análises preditivas sofisticadas, identificando tendências, antecipando mudanças de mercado e personalizando produtos e serviços. Entretanto, o sucesso não se resume à implementação de ferramentas avançadas: é essencial haver um planejamento que considere como a IA pode apoiar objetivos de longo prazo. O uso da IA deve ser orientado por um propósito claro, evitando decisões impulsionadas apenas pela pressão de inovação. Quando aplicada com intencionalidade estratégica, a IA se torna catalisadora de valor real. Empresas que integram IA à sua visão estratégica conseguem otimizar processos, refinar a precificação e impulsionar a inovação, gerando valor tanto para clientes quanto para acionistas. Em contrapartida, a ausência de metas definidas e de um direcionamento claro tende a resultar em projetos dispersos, consumindo recursos sem retorno efetivo.
Paralelamente, a governança surge como alicerce para garantir que a IA seja adotada com transparência e responsabilidade. O estabelecimento de um comitê específico, composto por lideranças e especialistas, permite que as decisões sobre IA sejam tomadas de forma colaborativa, considerando aspectos éticos, legais e de segurança. Além disso, a designação de papéis e responsabilidades evita sobreposição de funções e minimiza riscos de implementação. A definição de métricas de acompanhamento, políticas de conformidade e processos de auditoria contínua também reforça a confiabilidade dos sistemas, reduzindo a probabilidade de vieses ou falhas críticas. O envolvimento direto da liderança executiva e dos conselhos é essencial. A governança da IA não pode ser delegada unicamente a áreas técnicas, ela exige accountability institucional, com supervisão contínua e participação ativa da alta gestão.
No entanto, engajar pessoas é um desafio igualmente crucial. A implementação de IA e governança demanda uma cultura organizacional que valorize aprendizagem contínua e colaboração. Equipes de TI e inovação devem trabalhar em conjunto com as áreas de negócios, assegurando que as soluções tecnológicas sejam adequadas às necessidades estratégicas. Programas de capacitação podem disseminar conhecimento sobre algoritmos, análise de dados e riscos associados, enquanto protocolos de governança servem para fomentar a conscientização sobre possíveis impactos éticos e regulatórios. Esse equilíbrio entre competências técnicas e engajamento humano é o que habilita as organizações a extrair o máximo da IA.
Ao analisar experiências de sucesso, constata-se que empresas que aliam estratégia clara e governança sólida costumam colher benefícios tangíveis: aumento da produtividade, economia de custos, engajamento de clientes e melhoria no processo decisório. Por outro lado, iniciativas de IA desconectadas da governança frequentemente resultam em conflitos internos, uso indevido de dados e até litígios, comprometendo a imagem corporativa. Portanto, mais do que seguir tendências, a adoção de IA requer um compromisso formal com práticas responsáveis, que integrem valores organizacionais, visão de futuro e rigor na execução.
Em síntese, a utilização da IA em prol da competitividade exige um trabalho conjunto de todas as frentes de negócio. Se, por um lado, a IA potencializa análises e otimiza resultados, por outro, a governança define os parâmetros que asseguram a confiabilidade e a legitimidade desse uso. Assim, a estratégia e a governança de IA devem caminhar lado a lado, construindo as bases de uma organização ágil, responsável e preparada para um mercado em constante transformação.
Texto originalmente publicado no blog Gestão e Negócios do Estadão, uma parceria entre a FGV EAESP e o Estadão, reproduzido na íntegra com autorização.
Os artigos publicados na coluna Blog Gestão e Negócios refletem exclusivamente a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, a visão da Fundação Getulio Vargas ou do jornal Estadão