Em um mundo acelerado e voltado ao consumo em massa, cresce o interesse das pessoas por práticas que tragam significado e equilíbrio. Essa tendência reflete o movimento do consumo consciente e bem-estar, que valoriza escolhas éticas, sustentáveis e alinhadas aos próprios valores. Mais do que rejeitar o consumo, essa visão propõe uma ampliação de seu significado: o encantamento não vem apenas do prazer momentâneo, mas de uma sensação mais profunda de realização e propósito — o que os pesquisadores chamam de bem-estar eudaimônico. Portanto, essa forma de encantamento cotidiano revela que é possível transformar o ato de consumir em uma experiência de autoconhecimento e conexão com o mundo.
O estudo conduzido por Isabela Carvalho de Morais (UFOP) e Eliane Brito (FGV EAESP), foi publicado na European Journal of Marketing. A pesquisa, realizada ao longo de sete anos, utilizou netnografia, observação participante, introspecção e entrevistas em profundidade. As autoras buscaram compreender como o fazer pessoal de cosméticos naturais — como hidratantes e desodorantes — pode gerar encantamento, bem-estar e senso de propósito. Assim, essas práticas realizadas pelos próprios consumidores em casa representam uma forma criativa e autônoma de se relacionar com o consumo, priorizando saúde, sustentabilidade e autenticidade.
Como o consumo consciente promove bem-estar e propósito no dia a dia
Os resultados mostram que o encantamento surge quando o consumo é guiado por reflexão, propósito e engajamento ético, e não apenas pelo prazer sensorial imediato. Enquanto o consumo hedônico busca prazer e satisfação momentânea e ao consumismo, o consumo eudaimônico está associado ao florescimento humano, ao esforço criativo e à coerência com os valores pessoais.
Portanto, ao produzir seus próprios cosméticos com ingredientes simples e naturais, os consumidores experimentam autonomia, criatividade e conexão afetiva com os materiais e processos. Essa prática desperta um senso de realização que vai além do produto final — é o processo em si que gera bem-estar e significado.
O papel da indústria do bem-estar na busca pelo encantamento
Além disso, o estudo destaca que as empresas podem aprender com essas práticas. Marcas que priorizam transparência na origem dos ingredientes, ética na produção e envolvimento do consumidor constroem relações mais autênticas e duradouras. Ou seja, ao criar espaços de participação — como oficinas, personalização de produtos ou experiências colaborativas —, as organizações ajudam a transformar o consumo em uma fonte de aprendizado e propósito.
Por fim, o artigo propõe um olhar renovado sobre o consumo cotidiano. Em vez de vê-lo apenas como busca por prazer ou crítica ao consumo, ele o apresenta como um caminho de realização e encantamento eudaimônico. O consumo consciente e bem-estar nasce quando o indivíduo se envolve ativamente na criação do que consome, expressando valores, propósito e autonomia. Ao valorizar o fazer pessoal, consumidores e empresas colaboram para um modelo de consumo mais humano, criativo e sustentável. Ele, sim, é capaz de reencantar o cotidiano e promover um bem-estar profundo e duradouro.
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