No mercado financeiro, vieses comportamentais são tendências psicológicas ou cognitivas que podem influenciar investidores na tomada de decisão racional, afetando seu comportamento nos negócios. Tendências como evitar assumir riscos ou seguir as ações da maioria, por exemplo, podem levar esses profissionais a decisões irracionais nas finanças. Esses aspectos também podem ser influenciados por fatores sociodemográficos, como o gênero. O excesso de confiança em movimentações financeiras, por exemplo, é significativamente mais prevalente em homens do que em mulheres.
A análise está em artigo publicado pela pesquisadora da FGV EAESP Claudia Emiko Yoshinaga, em colaboração com demais autores, na revista “Qualitative Research in Financial Markets”. Para investigar o papel dos vieses comportamentais na tomada de decisão de investidores individuais e o impacto de fatores sociodemográficos nesse processo, os autores realizaram uma revisão de literatura a partir de dez repositórios virtuais de artigos científicos, em dezembro de 2021. A busca resultou na análise de 69 estudos relacionados ao tema.
Evidências sugerem pouca associação entre vieses comportamentais e fatores sociais, mas pesquisa na área requer melhorias
A pesquisa identificou 37 vieses de comportamento de investidores que influenciam o processo de tomada de decisão. Dentre eles, quatro se destacam como os mais estudados na literatura: o excesso de confiança; a aversão à perda, ou o medo de assumir riscos; o efeito manada, ou a tendência de seguir as ações da maioria; e o efeito disposição, a relutância em vender ativos que estão apresentando queda de valor.
Em relação à influência de fatores sociais nesses atributos, a pesquisa destaca o efeito do gênero no excesso de confiança dos investidores. O comportamento de superestimar as próprias habilidades ao tomar decisões financeiras é significativamente mais prevalente em homens do que em mulheres, o que pode ser explicado por influências culturais. Outros elementos, como idade, tempo de experiência, renda e educação não apresentam relações significativas com os vieses comportamentais nos estudos analisados.
Por outro lado, os autores apontam para a falta de métodos e instrumentos “padrão-ouro” para medir os comportamentos dos investidores – ferramentas padronizadas de qualidade que oferecem maior consistência aos resultados. A maioria dos instrumentos utilizados nos estudos analisados é ad hoc, ou seja, são abordagens específicas, particulares e que buscam atender apenas aos objetivos da pesquisa em questão. Além disso, a maioria das metodologias empregadas não segue as recomendações para avaliações e medições psicológicas, prejudicando a qualidade dos resultados.
Para os pesquisadores, para chegar a evidências mais concretas sobre o funcionamento dos vieses comportamentais nas finanças, é fundamental considerar o uso de questionários que já possuam evidências psicométricas sólidas, em vez de criar novos instrumentos ad hoc. Outra sugestão é desenvolver instrumentos de avaliação psicológica de qualidade que possam atuar como modelo de referência para a pesquisa científica na área.