Quando o dólar sobe, empresas que importam produtos ou têm dívidas em moeda estrangeira podem ver seus custos dispararem. Para se proteger dessas oscilações, muitas recorrem aos derivativos cambiais, contratos que funcionam como uma espécie de “seguro” contra a variação do câmbio. Mas nem todas as empresas têm o mesmo acesso a esse tipo de ferramenta financeira — e é aí que entra o papel do relacionamento bancário.
Um estudo dos pesquisadores Sergio Leão (Banco Central do Brasil), Rafael Schiozer (FGV EAESP), Raquel Oliveira (Banco Central do Brasil) e Gustavo Araujo (FGV EPGE), publicado na Journal of Financial Intermediation, analisou mais de 100 mil contratos de derivativos cambiais de balcão firmados entre mais de 6 mil empresas e mais de 50 bancos brasileiros entre 2010 e 2014. O objetivo foi entender se o relacionamento de empréstimo entre empresas e bancos influencia o acesso ao hedge cambial — e os resultados são claros: ter um relacionamento bancário faz toda a diferença.
Os autores cruzaram dados detalhados de empréstimos e contratos de derivativos, cobrindo empresas de todos os tamanhos e setores. Essa abordagem inédita permitiu observar desde as grandes até as pequenas e médias empresas.
Relações de confiança entre bancos e empresas facilitam proteção contra oscilações do câmbio
As empresas têm 10 pontos percentuais mais chance de negociar derivativos com bancos dos quais já são clientes e o dobro de chance de contratar com seu principal credor. Entre as pequenas empresas e as que estão usando derivativos pela primeira vez, esse efeito é ainda maior.
Além disso, os contratos são mais baratos quando firmados com o principal banco credor. Em média, o spread (diferença entre o preço de mercado e o preço do contrato) é 30% menor em comparação aos bancos sem vínculo de empréstimo. Essa diferença de preço mostra que os bancos têm interesse em que seus clientes se protejam contra o risco cambial. Afinal, isso também reduz o risco de inadimplência em suas carteiras de crédito.
Relacionamento bancário: por que isso importa?
Para o público em geral, o estudo revela como relações de confiança e histórico com o banco podem gerar benefícios concretos. Isso especialmente para pequenas empresas, que enfrentam mais barreiras para acessar instrumentos financeiros sofisticados. Além disso, mostra que a integração entre crédito e produtos de proteção financeira pode tornar o sistema financeiro mais estável e eficiente, diminuindo o efeito de crises geradas por variações abruptas do câmbio sobre a economia.
Por fim, os resultados também sugerem que políticas de compartilhamento de informações financeiras, como o open banking, podem ampliar o acesso a esses instrumentos. Isso torna o mercado mais competitivo e inclusivo.
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