A forma como uma empresa administra seu caixa é uma das decisões mais importantes em finanças corporativas. Em tempos de incerteza, manter dinheiro disponível pode ser essencial para garantir o funcionamento das operações. Mas quanto uma empresa deve guardar? E por que algumas preferem ter menos caixa do que outras? Um estudo publicado na Review of Quantitative Finance and Accounting ajuda a responder essas perguntas no contexto latino-americano.
Os autores Marcelo Botelho da Costa Moraes (USP FEA-RP), Aviner Augusto Silva Manoel (Católica Porto Business School) e Jorge Carneiro (FGV EAESP) analisaram os determinantes das reservas de caixa corporativas em mais de 7 mil empresas de capital fechado e capital aberto de Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru, com dados de 2000 a 2019. O estudo preenche uma lacuna importante: até agora, pouco se sabia sobre o comportamento financeiro de empresas de capital fechado em economias emergentes, apesar de sua relevância para o mercado.
Utilizando informações da base Capital IQ, que reúne informações financeiras de empresas de capital aberto e de capital fechado em diferentes países e setores, os autores aplicaram modelos estatísticos que compararam empresas de capital aberto e fechado, controlando fatores como país, setor e ano. Além disso, testaram a robustez dos resultados com diferentes métodos econométricos, garantindo que as conclusões fossem consistentes.
Por quê empresas de capital fechado da América Latina mantêm menos caixa do que as de capital aberto?
As conclusões desafiam uma crença comum nas finanças corporativas: a de que empresas com acesso restrito ao crédito deveriam manter mais caixa por precaução. Na prática, os pesquisadores mostraram que ocorre o oposto. Empresas de capital fechado da América Latina mantêm menos caixa do que as de capital aberto, principalmente porque o custo de manter liquidez é muito alto.
Portanto, sem acesso fácil a empréstimos e com custos de transação elevados, essas empresas precisam usar seus próprios fluxos de caixa para pagar dívidas e sustentar as operações. Já as empresas de capital aberto contam com fontes externas mais baratas, como o mercado de ações, o que reduz seus custos e amplia sua flexibilidade.
Sendo assim, os resultados têm implicações práticas para gestores e formuladores de políticas. Os pesquisadores recomendam que empresas aprimorem a previsão de fluxo de caixa e busquem investimentos de curto prazo que compensem o custo de manter liquidez. Já os governos devem ampliar o acesso ao crédito e estimular soluções fintech, reduzindo as barreiras financeiras que limitam o crescimento das empresas de capital fechado.
Por fim, ao revelar que as empresas de capital fechado latino-americanas enfrentam um custo de liquidez mais alto, o estudo traz uma nova perspectiva sobre a gestão financeira em mercados emergentes. Ele mostra que as diferenças no acesso a recursos moldam diretamente as estratégias de caixa — e, em última instância, o desenvolvimento econômico da região.
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