Quando influenciadores digitais postam fotos ao final dos exercícios na academia, acompanhados de expressões como “tá pago”, estariam eles se sentindo mais saudáveis ou mais bonitos? Esse é um dos questionamentos que o trio de pesquisadoras da FGV EAESP se propõe a discutir em um estudo recém-publicado no periódico “Consumption Markets & Culture”. Ao explorar o contexto de vida saudável entre influenciadores digitais e seus seguidores, as pesquisadoras descrevem algumas das principais motivações para a adoção de modos de vida mais saudáveis.
Segundo as autoras, a adoção de certas práticas saudáveis acontece pela busca dos indivíduos de distinguirem-se do que seriam formas corporais socialmente entendidas como inapropriadas, que são percebidos por um descolamento da própria imagem corporal na comparação com o que é socialmente destacado pelos influenciadores. O corpo passa então a ser uma espécie de “moeda” na disputa por status (status games, no inglês), levando os indivíduos a buscarem práticas de gestão do próprio corpo que tentam fazer com que a imagem corporal esteja alinhada às sugestões “da moda” do momento (taste regime, no inglês), o que envolve não só o corpo, mas também questões de beleza e saúde. “Conforme os consumidores adquirem maestria no seguimento de regimes de vida saudável, eles se sentem alinhados aos sistemas normativos que promovem uma saúde holística, na qual o formato corporal é apenas um resultado e um símbolo de distinção”, concluem as autoras.
Dessa forma, o primeiro ímpeto dos indivíduos de controlar seus corpos como uma forma de demarcar seus status cria um conflito na forma pela qual os gostos ou preferências são manifestados e em como as práticas de vida saudável são representadas. Por isso, as pesquisadoras sugerem que o corpo tem uma função muito mais central na definição das preferências e gostos relacionados à uma vida mais saudável.
Segundo o mapeamento feito pelas autoras no estudo, o corpo é o elemento central de intersecção nas disputas por status e os sistemas normativos de gostos ou preferências e suas práticas. Assim que o consumidor alcança um formato corporal que oferece uma distinção vertical, passam a se reconectar com uma experiência holística e se envolvem em práticas mais relacionadas à uma vivência mais saudável de forma geral. No entanto, como a gestão do corpo tem interseções com discursos históricos de saúde, beleza e controle do corpo feminino, a gestão corporal ainda aparece como uma função do corpo em diversas disputas por status.
As pesquisadoras concluem que a ideia de vida saudável passa a se transformar para também incluir a ideia de ânimo e energia — que são sentidos pelo corpo enquanto os consumidores se envolvem com práticas de vida saudável, como exercícios físicos. A gestão do corpo passa a ganhar novas dimensões, com os indivíduos monitorando, discutindo e tornando públicos seus processos de transformação, enquanto buscam atingir um estilo de vida saudável ao encontrar saídas que também os incluam dentro das narrativas de beleza e saúde vigentes. “Depois de transformar seus gostos ou preferências, os consumidores não conseguem abandonar completamente esse desejo de se “distinguirem acima de”, já que os regimes de vida saudável que adotaram estão em intersecção com os sistemas normativos de beleza e saúde”, explicam as autoras.