Por Lilian Carvalho – lilian.carvalho@fgv.br
Coordenadora do Centro de Estudos em Marketing Digital da FGV-EAESP
Na opinião do ministro Alexandre de Moraes, o bloqueio do Twitter/X em 31 de agosto de 2024 é/foi justificado pois é preciso regulamentar as redes sociais em nome do combate à desinformação, ou fake news. Em busca desse objetivo, ele e a primeira turma do STF, que ratificou sua decisão, estão alinhados. As big techs devem ser responsabilizadas pelo conteúdo que circula em suas plataformas.
Mas não é isso que diz a literatura acadêmica, nem os dados de pesquisas. Um estudo da revista Nature mostra que, embora alguns usuários possam ser expostos à desinformação em redes sociais, isso não implica que as plataformas promovam ou facilitem a disseminação de notícias falsas. E o Twitter/X se sai melhor no combate às fake news do que em outras plataformas. Pesquisa da Colorado University indica que o Twitter é um terreno menos fértil para notícias falsas em comparação ao Facebook. O estudo descobriu que, embora alguns usuários compartilhem informações falsas, uma maioria significativa — 95% dos usuários do Twitter — não compartilhou nenhum conteúdo enganoso. Isso sugere que, embora a desinformação exista no Twitter, ela não é tão difundida quanto em outras plataformas como o Facebook. As descobertas também enfatizam que certos grupos demográficos são desproporcionalmente responsáveis por compartilhar notícias falsas, em vez de a plataforma em si ser um terreno fértil.
Mas e os brasileiros? Respeitaram o bloqueio ou acessaram o Twitter/X? Dados de levantamentos feitos com auxílio de softwares pelo FGV/CEMD (Centro de Estudos em Marketing Digital) mostram que o Twitter/X continuou firme e forte no Brasil, apesar dos esforços do ministro Alexandre de Moraes para bloqueá-lo. Parece que a tentativa de censura não foi tão eficaz assim. Vamos aos números: o tráfego do X caiu apenas 10% entre agosto e setembro. Enquanto isso, o Threads, que deveria ser o “novo Twitter”, despencou incríveis 30%.
Em setembro, o X teve 900 milhões de visitas no Brasil, enquanto o Threads mal chegou aos 7 milhões de acessos. Esses números mostram que o X/Twitter ainda é duas ordens de magnitude maior que seu concorrente.
Ontem, dia 8 de outubro de 2024, foi anunciado que Alexandre liberou o Twitter/X para nós, brasileiros. O termo de busca “Twitter” teve pico de buscas nesta madrugada, e uma das buscas mais feitas era “meu twitter não voltou”, mostrando a ansiedade em acessar a plataforma pelos usuários.
Tivemos, segundo levantamento feito pelo Buzzmonitor, quase 2 mil posts sobre o assunto em menos de 14 horas no Twitter. Mesmo enquanto o bloqueio ainda perdurava, um dos posts mais visualizados era do senador Marcos do Val (@marcosdoval), com 12,7 mil visualizações. Essa conta deveria estar bloqueada desde junho de 2023, por supostas ligações sobre os protestos de 8 de janeiro em Brasília. Como se vê, foi grande a resistência e o número de visualizações em posts supostamente inacessíveis em uma rede social que deveria estar bloqueada, sob pena de multa.
A resistência foi também feita por pessoas comuns. Eli Vieira, jornalista e sobrevivente do bloqueio, afirma que Elon Musk, dono da plataforma em questão, estava certo em resistir às ordens de Moraes, que, segundo ele, violam o Marco Civil da Internet. “Isso é censura prévia”, diz Eli, que continuou postando livremente e até recomendou o uso de VPN. Parece que a resistência não foi só política, mas também uma questão de cidadania. Ele ainda destaca que os inquéritos secretos capitaneados por Moraes são inconstitucionais e minam o império da lei no Brasil.
Outros usuários também continuaram ativos, alegando que não há legislação que os impeça. “Eu diria ‘restrição de acesso ao Twitter’, porque não há lei que proíba o acesso, né?”, comenta o anônimo @siegnant, mostrando que a resistência também veio da descrença na eficácia do Estado em controlar os acessos.
Já a conta @madeinbajor, que oferece conselhos pessoais, viu sua renda cair pela metade, mas ainda se manteve na plataforma por necessidade econômica. Antes do bloqueio, a conta conseguia entre 15 milhões e 20 milhões de visualizações em semanas boas. Hoje, no máximo 2 milhões. A monetização, que chegava a R$ 350,00 por mês, agora caiu pela metade. Com o desbloqueio ela espera recuperar a renda perdida no mês de setembro. Para muitos, o Twitter/X não é apenas uma rede social, mas uma fonte de renda.
No fim das contas, o brasileiro mostrou que sua veia resistente às ordens do STF esteve mais viva do que nunca. Seja por resistência política, descrença na eficácia do Estado ou razões econômicas, o Twitter/X continuou sendo um espaço de expressão e conexão.
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