Você já fez algum teste para descobrir seu perfil de investidor? Esses testes — exigidos por bancos e corretoras — deveriam ajudar a identificar quais produtos financeiros combinam com seu perfil. Mas será que eles realmente medem o que importa? Um novo estudo revela que os questionários usados no Brasil deixam de lado fatores emocionais e psicológicos que influenciam diretamente nas decisões financeiras.
O estudo foi conduzido pela pesquisadora Claudia Yoshinaga, da FGV EAESP, em parceria com Nicolas de Oliveira Cardoso e Wagner De Lara Machado, e publicado na revista científica Social, Work, and Organizational Psychology. A pesquisa obteve 70 participantes: 11 pesquisadores da área, 31 profissionais do mercado financeiro e 28 investidores individuais. Além disso, os pesquisadores analisaram questionários aplicados por 12 grandes instituições financeiras brasileiras. Os pesquisadores avaliaram as respostas com técnicas de mineração de texto e análise de redes semânticas.
Testes de perfil de investidor devem analisar fatores comportamentais, psicológicos e sociodemográficos
Apesar de alguma concordância entre os grupos, o estudo revelou grandes diferenças de opinião sobre o que deve ser avaliado nos testes de perfil. Enquanto pesquisadores valorizam a capacidade financeira e a tolerância a risco, profissionais do mercado e investidores destacam o conhecimento sobre investimentos. No entanto, fatores psicológicos como medo, impulsividade, ganância, euforia e controle emocional também apareceram com destaque — mas quase sempre ficam de fora nos testes tradicionais.
Outro ponto levantado é que muitos testes focam apenas em dados como idade, renda e tempo de investimento, deixando de lado elementos comportamentais que afetam diretamente a tomada de decisão. Além disso, questões mal formuladas, linguagem técnica demais e falta de padronização científica tornam os testes pouco eficazes.
Dessa maneira, o estudo sugere que as instituições financeiras brasileiras precisam repensar seus testes de perfil de investidor. Adotar modelos mais completos, que considerem aspectos psicológicos e emocionais, pode ajudar a proteger melhor os investidores e evitar decisões precipitadas. Os resultados reforçam a necessidade de revisão das normas brasileiras, como a Instrução CVM 539, para que testes de perfil incluam variáveis psicológicas hoje negligenciadas
Por fim, uma das soluções propostas é oferecer educação financeira gratuita para iniciantes e desenvolver testes mais confiáveis, com base em evidências científicas. Isso garantiria que os produtos oferecidos estejam de fato alinhados ao perfil de cada pessoa, promovendo escolhas mais conscientes no mundo dos investimentos.
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