A fome nas cidades brasileiras não é causada pela falta de alimentos, mas sim pela má distribuição e pelo difícil acesso da população de baixa renda. A insegurança alimentar afeta mais de 80 milhões de pessoas no Brasil, segundo dados do IBGE (2020). Nesse contexto, surgem as cozinhas solidárias, uma resposta direta e coletiva para garantir refeições dignas a quem mais precisa. Ou seja, mulheres chefes de família, crianças e moradores das periferias.
Um estudo foi realizado por Luciana Marques Vieira, pesquisadora e professora da FGV EAESP e Fabiano Jorge Soares, doutorando e pesquisador do FGV Analytics e FGV CEAPG, em coautoria com Wagner Cerqueira Nunes, Nicole Martins Bezerra e Carolyne Mendes Espírito Santo, e publicado na revista Cadernos Gestão Pública e Cidadania utilizando análise documental e revisão de literatura. O objetivo foi analisar a relevância das cozinhas solidárias no combate à insegurança alimentar nos centros urbanos brasileiros.
Sendo assim, os pesquisadores utilizaram dados oficiais do IBGE e da Rede Penssan, além da legislação que institucionalizou o Programa Nacional Cozinha Solidária (PNCS) — Lei nº 14.628/2023 e Decreto nº 11.937/2024. Além disso, a pesquisa estudou experiências práticas de cozinhas implantadas durante a pandemia, com destaque para o trabalho do MTST em várias regiões do país.
Mais do que refeições: inclusão, capacitação e justiça social
As cozinhas solidárias oferecem refeições gratuitas ou a preços simbólicos para famílias em situação de vulnerabilidade. Porém, seu papel vai além disso, funcionando também como centros de formação comunitária, redes de solidariedade e valorização do trabalho local. Elas contam com o apoio de agricultores familiares, doações voluntárias e o esforço diário de cozinheiras e moradores das comunidades.
Desde 2021, essas cozinhas distribuíram mais de 2,3 milhões de refeições no Brasil, mesmo enfrentando desafios como falta de recursos estáveis e descontinuidade de políticas públicas. Em 2024, existiam 48 cozinhas solidárias ativas, com estrutura limitada, mas grande impacto social.
Cozinhas solidárias como política estratégica para o Brasil
A pesquisa mostra que as cozinhas solidárias são tecnologias sociais replicáveis, desenvolvidas com participação da comunidade, que promovem soluções reais para o combate à fome. Além disso, incentivam práticas sustentáveis para a redução do desperdício, como o aproveitamento de alimentos próximos ao vencimento ou fora do padrão estético do comércio.
Portanto, para que esse modelo se torne sustentável em larga escala, o estudo recomenda:
- Expansão do PNCS com recursos contínuos;
- Parcerias com pequenos produtores e bancos de alimentos;
- Infraestrutura adequada nas regiões mais afetadas pela fome (Norte e Nordeste);
- Integração com programas como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos).
Ao mostrar que é possível garantir alimentação digna com articulação comunitária e apoio governamental, o estudo reforça a importância das cozinhas solidárias como política pública de segurança alimentar e justiça social. Por fim, mais do que uma resposta emergencial, elas representam um modelo de transformação local com impacto nacional. São um passo concreto para um Brasil sem fome.
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Crédito fotografia: Roberta Aline/ Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).
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