Diante da ausência de ações do governo federal para administrar os efeitos da pandemia na saúde e na educação brasileiras, medidas emergenciais foram assumidas por estados e municípios, o que exacerbou desigualdades regionais. Ainda que os primeiros casos tenham sido registrados nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, a taxa de mortalidade por Covid-19, por exemplo, cresceu rapidamente em estados com maior vulnerabilidade socioeconômica, principalmente nas regiões Norte e Nordeste.
Os apontamentos estão em capítulo da pesquisadora da FGV EAESP Elize Massard da Fonseca e colaboradores publicado no livro “The Coronavirus Pandemic and Inequality”. Através de revisão de literatura, os autores refletem sobre a resposta brasileira durante a pandemia em três diferentes áreas: saúde, educação e assistência social.
Os pesquisadores destacam que a desarticulação nacional das políticas educacionais verificada a partir de 2019 prejudicou as estratégias durante a pandemia, visto que o governo federal não estabeleceu regulamentação nacional diante do fechamento de escolas e não adotou ações para diminuir as desigualdades nessa área. Alguns estados, como São Paulo, conseguiram implementar medidas inovadoras, como a transmissão de conteúdo pela TV e internet. Porém, estados com capacidades fiscal e administrativa reduzidas sequer conseguiram articular estratégias de ensino à distância, que demandam infraestrutura inexistente nesses locais.
Após demanda do Congresso, o governo federal adotou como política socioeconômica para responder à pandemia o pagamento do Auxílio Emergencial a famílias de baixa renda e trabalhadores informais. Ainda é cedo para entender o impacto do Auxílio Emergencial na redução da pobreza e da desigualdade, ressalta o capítulo, mas os autores observam que nos primeiros três trimestres de 2021, após a suspensão do benefício, havia um número maior de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza do que nos anos pré-pandemia.
O capítulo sublinha que as desigualdades socioeconômicas verificadas no período contribuem também para a manutenção das desigualdades raciais no país. Embora as taxas de incidência de Covid-19 tenham sido maiores entre a população branca, por exemplo, a população negra em todas as regiões do país sofreu maior letalidade e maior risco de morte em comparação aos brancos. Por outro lado, em relação à vacinação, o texto observa que a cobertura da atenção primária à saúde contribuiu para um acesso mais equitativo aos imunizantes nos municípios mais vulneráveis.