A insegurança alimentar afeta milhões de brasileiros, sendo que 83% dos casos graves estão nas cidades. Ao mesmo tempo, toneladas de alimentos são desperdiçadas diariamente, gerando impactos ambientais e sociais. Nesse contexto, os sistemas alimentares circulares aparecem como alternativa ao modelo linear de produzir, consumir e descartar. Essa abordagem busca reaproveitar recursos, reduzir perdas e criar soluções sustentáveis que conciliem saúde, meio ambiente e justiça social.
Um estudo publicado na Revista RAE por Gustavo Porpino, Carlos Eduardo Lourença (FGV EAESP), Juliana Tangari e Cecília Araújo, analisou como governos locais e diferentes atores podem transformar a alimentação urbana. Foram realizados grupos focais com 44 gestores municipais em cinco cidades: Rio Branco (AC), Santarém (PA), Recife (PE), Maricá (RJ) e Curitiba (PR). Sendo assim, o objetivo foi identificar práticas eficazes, obstáculos e oportunidades para aplicar a economia circular à alimentação.
Os cinco eixos para implantar sistemas alimentares circulares
Os resultados destacaram cinco eixos fundamentais para a mudança:
- Pessoas: capacitar equipes técnicas garante continuidade das ações, mesmo com mudanças políticas.
- Gestão da qualidade: mercados e feiras precisam de regras claras para assegurar alimentos seguros e de qualidade.
- Visão sistêmica: políticas alimentares devem articular saúde, educação, agricultura, meio ambiente e assistência social.
- Governança multinível: cidades precisam dialogar com estados, governo federal e sociedade civil para ampliar parcerias.
- Circularidade: transformar resíduos em recursos, com compostagem, biogás e reaproveitamento de alimentos, fecha o ciclo e dá vida nova ao sistema alimentar.
Um diferencial da pesquisa foi o uso da teoria dos stakeholders, que propõe considerar os interesses de todos os envolvidos — de agricultores a consumidores, passando por ONGs, governos e empresas. Portanto, essa visão reforça que a transição para sistemas alimentares circulares só terá sucesso com colaboração entre os diferentes atores e corresponsabilidade na execução das políticas.
Além disso, práticas como compostagem de resíduos, redistribuição de alimentos por bancos e feiras, agricultura urbana e empreendedorismo social são estratégias práticas para tornar os sistemas alimentares mais sustentáveis. Essas iniciativas não apenas reduzem o desperdício, mas também ampliam o acesso a alimentos de qualidade, regeneram ecossistemas e ajudam no combate às mudanças climáticas.
Próximos passos para cidades sustentáveis
O estudo mostra que os sistemas alimentares circulares não são apenas uma ideia teórica, mas uma estratégia viável para enfrentar a insegurança alimentar e as mudanças climáticas.
Por fim, com planejamento, políticas públicas consistentes e engajamento da sociedade, as cidades podem transformar resíduos em recursos, reduzir desigualdades e garantir um modelo alimentar mais justo e sustentável. Assim, adotar sistemas circulares não é apenas uma opção, mas uma necessidade estratégica para o futuro das cidades brasileiras.
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