Por: Mauro Loureiro Junior – Pós-graduando do Doutorado Profissional em Administração da FGV EAESP
A era digital está revolucionando a forma como as empresas se estruturam e operam, demandando profunda reavaliação dos modelos organizacionais tradicionais, desafiando e exigindo mais de seus líderes. A ascensão de plataformas digitais como Netflix, Spotify e YouTube, exemplifica essa transformação, evidenciando o poder da colaboração em rede e da criação de valor em ecossistemas digitais. Esse cenário redefine a competição em diversos setores, impondo nova mentalidade em termos de estratégia e gestão. Toda essa transformação exige lideranças diferentes com habilidades e competências adequadas para lidar com os desafios impostos pela era digital.
Nesse novo contexto, hierarquias e modelos rígidos de gestão perdem espaço em favor de estruturas mais ágeis e flexíveis. As chamadas ‘organizações em rede’ emergem como alternativa promissora, promovendo a colaboração entre diferentes atores, internos e externos da empresa, unidos por objetivos comuns. Como exemplo, temos os consórcios de empresas de diferentes setores que se unem para desenvolver um novo produto, compartilhando conhecimento, recursos e riscos. Essa abordagem descentralizada e colaborativa contrasta com o modelo tradicional de integração vertical no qual as empresas buscam controlar toda a cadeia de suprimentos. Como benefício principal, o modelo de organizações em rede oferece maior agilidade e capacidade de resposta às mudanças cada vez mais frequentes e intensas do mercado.
A Amazon é exemplo de empresa que se utiliza de um desenho organizacional inovador. A empresa opera com estrutura de equipes pequenas e autônomas, conhecidas como “two-pizza teams” (times que podem ser alimentados com duas pizzas!), que são responsáveis por gerir diferentes produtos e serviços. Essa estrutura descentralizada promove agilidade e inovação contínua, permitindo que a Amazon se adapte rapidamente às mudanças do mercado e às necessidades dos clientes. Além disso, a empresa se beneficia de uma extensa rede de parceiros e fornecedores, operando em um modelo de negócios que integra lojas físicas, comércio eletrônico e serviços de nuvem.
Outro modelo em ascensão é o das organizações em plataforma, como o da Etsy, que conecta artesãos e pequenos comerciantes diretamente a consumidores, eliminando a necessidade de intermediários tradicionais. A Etsy proporciona uma plataforma que facilita a venda de produtos artesanais e vintage, permitindo que pequenos vendedores acessem o mercado global sem ter que incorrer nos altos custos necessários para se montar uma infraestrutura própria. Outro exemplo é a Salesforce, que se utiliza de uma plataforma digital baseada na nuvem para fornecer serviços de CRM a empresas de variados tamanhos. A Salesforce não só permite aos seus usuários fazer uma gestão mais eficiente do relacionamento com seus clientes como também integra várias ferramentas e aplicativos que acabam por promover um ecossistema digital robusto.
A escolha do desenho organizacional ideal não só deve ter um viés de modelo de negócio, mas também deve considerar o nível de variedade das tarefas, que influencia o dia a dia e a percepção dos funcionários da empresa. Para isso, é necessário compreender a importância desse desenho e como ele atua para moldar a cultura e os processos de trabalho. A eficácia da liderança nesse processo depende do conhecimento e da sua capacidade de adaptação às novas tendências tecnológicas e de utilização dessas novas tecnologias para aumentar a sua eficiência no papel de líder corporativo.
As qualidades e competências que garantiram sucesso aos líderes de empresas tradicionais em período anterior ao da atual revolução digital não serão mais suficientes nesse novo cenário. Nos tempos atuais, é fundamental que as lideranças saibam demonstrar conhecimento técnico e domínio das novas tecnologias que permitam a constante digitalização de processos e serviços, mudando a forma de comandar uma organização e o time profissional. Esse novo líder precisa desenvolver um conjunto de competências adicionais para lidar com a complexidade e as mudanças rápidas trazidas pela digitalização. Ele deve ser capaz de criar e comunicar uma visão clara sobre o futuro digital da sua organização, alinhando-a sempre com os objetivos estratégicos e fomentando uma cultura de inovação contínua que incentive a experimentação e de aceitação do fracasso como parte do processo de aprendizado.
É fundamental que esse líder tenha compreensão profunda sobre as tecnologias emergentes, como inteligência artificial, big data e blockchain, e suas possíveis aplicações pela empresa para criar novas vantagens competitivas. Utilizar dados e análises para informar decisões estratégicas, melhorando a precisão e a eficácia das ações, é outra competência crucial. Agilidade e a adaptabilidade são atributos necessários para saber responder rapidamente às mudanças no ambiente de negócios e ajustar estratégias e operações, sempre que necessário. Por fim, é importante ter excelência na comunicação e colaboração em ambientes virtuais, utilizando ferramentas digitais para conectar e engajar equipes remotas.
A liderança digital e os novos desenhos organizacionais estão intrinsecamente ligados e moldarão o futuro do trabalho. Apenas o líder digital será capaz de implementar um novo modelo de organização, essencial para que ela possa prosperar na era digital, impulsionando a inovação e o crescimento em um ambiente cada vez mais complexo e dinâmico. A capacidade de adaptação, o desenvolvimento de novas habilidades de liderança e de colaboração, aliadas a investimentos permanentes em treinamento e desenvolvimento de novos talentos são atributos essenciais para que essas lideranças possam navegar com sucesso pelas águas da revolução digital, garantindo que suas organizações estejam preparadas para os desafios e oportunidades do futuro.
As empresas que compreenderem essa nova dinâmica estarão mais preparadas para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades dessa nova era. Empresas e profissionais que agirem com mais velocidade desenvolverão vantagens competitivas, independentemente de seu setor e segmento de atuação. Essa revolução ainda está acontecendo e não é tarde para começar. E você, líder, está pronto para esse desafio?
Texto originalmente publicado no blog Gestão e Negócios do Estadão, uma parceria entre a FGV EAESP e o Estadão, reproduzido na íntegra com autorização.
Os artigos publicados na coluna Blog Gestão e Negócios refletem exclusivamente a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, a visão da Fundação Getulio Vargas ou do jornal Estadão.
