Mel Girão, Doutora em Administração de Empresas pala FGV EAESP.
A Geração Z, formada por indivíduos nascidos entre meados da década de 1990 e o início dos anos 2010, tem desafiado padrões tradicionais de comportamento, especialmente no que diz respeito ao consumo de álcool e às relações interpessoais. Este recorte, criado e popularizado nos Estados Unidos, define aqueles que cresceram imersos nas tecnologias digitais e redes sociais, um contexto que parece influenciar profundamente suas escolhas e preferências de consumo.
Dados internacionais indicam uma redução significativa no consumo de bebidas alcoólicas entre os jovens dessa geração. Segundo levantamento da consultoria Statista, nos Estados Unidos, o gasto anual da Geração Z com bebidas alcoólicas é de apenas US$ 3,1 bilhões, uma redução expressiva quando comparado às gerações anteriores: Millennials gastam US$ 23,4 bilhões, enquanto os Baby Boomers chegam a US$ 25 bilhões anuais. No Brasil, tendências semelhantes têm sido observadas: de acordo com o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), os jovens brasileiros estão bebendo menos, começando mais tarde e demonstrando maior preocupação com a saúde e o bem-estar, o que reflete um comportamento mais cauteloso frente ao álcool.
Outro fenômeno intrigante – e que pode ter as mesmas causas-, também observado em pesquisas internacionais, é a diminuição das relações sexuais entre jovens adultos da Geração Z. Pesquisas americanas sugerem que o intenso uso das redes sociais e das plataformas digitais, que proporcionam gratificação imediata e constante, está relacionado a uma redução relevante da libido, eesta substituindo parcialmente a busca por interações presenciais, mais complexas e emocionalmente demandantes. Um estudo realizado na Universidade de Glasgow revelou que jovens adultos que utilizam intensamente mídias sociais têm três vezes mais chances de apresentar ansiedade e depressão, fatores que podem impactar diretamente o desejo sexual e a satisfação nas relações íntimas.
Essas transformações deveriam ser explicadas à luz da teoria do comportamento do consumidor, que tradicionalmente vê os indivíduos como agentes que buscam maximizar a satisfação obtida em suas experiências. A Geração Z, contudo, parece alterar essa lógica clássica. Para esses jovens, as recompensas rápidas oferecidas pelo ambiente digital –como likes, compartilhamentos e validação social instantânea– reduzem significativamente o apelo de experiências presenciais tradicionais, como festas com consumo de álcool ou relações afetivas que requerem um investimento emocional maior.
Além disso, observa-se um crescimento significativo das apostas esportivas online, conhecidas como “bets”, especialmente populares entre jovens da Geração Z. De acordo com uma análise técnica do Banco Central do Brasil, a maioria dos apostadores tem entre 20 e 30 anos, embora as apostas sejam realizadas por indivíduos de diferentes faixas etárias.
Para as empresas, compreender essa lógica de consumo orientada à gratificação imediata é crucial. Modelos tradicionais de negócios, baseados em experiências mais lentas ou complexas, precisarão se adaptar rapidamente a um consumidor jovem que prioriza simplicidade, rapidez e validação instantânea.
Adaptar-se à nova lógica da Geração Z não é apenas uma necessidade estratégica, mas também uma oportunidade valiosa para inovar e construir conexões mais autênticas com essa geração emergente de consumidores.
Referências e fontes
Banco Central do Brasil. (2024). Análise técnica sobre o mercado de apostas online no Brasil e o perfil dos apostadores. Recuperado de https://www.bcb.gov.br/conteudo/relatorioinflacao/EstudosEspeciais/EE119_Analise_tecnica_sobre_o_mercado_de_apostas_online_no_Brasil_e_o_perfil_dos_apostadores.pdf
Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA). (2023). Por que a Geração Z está bebendo menos?
Statista. (2023). Money spent on alcohol by generation annually in the U.S. Recuperado de https://statista.com
University of Glasgow. (2021). Social media use linked to anxiety and depression. Recuperado de https://gla.ac.uk
Texto originalmente publicado no blog Gestão e Negócios do Estadão, uma parceria entre a FGV EAESP e o Estadão, reproduzido na íntegra com autorização.
Os artigos publicados na coluna Blog Gestão e Negócios refletem exclusivamente a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, a visão da Fundação Getulio Vargas ou do jornal Estadão