Paulo Ricardo Brustolin da Silva, Executivo Sênior do Setor de Saúde, Doutorando em Administração pela FGV EAESP.
Saúde é um direito fundamental reconhecido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU). Há muitas décadas os Estados nacionais têm organizado seus sistemas de saúde com estruturas complexas de funcionamento e de financiamento, para garantir esse direito fundamental do ser humano aos seus cidadãos. Agora, imagine os cidadãos sendo atendidos em um sistema de saúde no qual os diagnósticos são precisos em minutos e cada paciente recebe um atendimento personalizado e customizado! Imagine hospitais onde filas intermináveis não existem, mesmo em sistemas de saúde muito sobrecarregados!
Isso parece um sonho, não parece? A Inteligência Artificial (IA) está transformando esse sonho em realidade, revolucionando os sistemas de saúde nacionais.
Analisando as dez maiores economias mundiais, podemos afirmar que os seus sistemas de saúde consomem em média mais de dez por cento dos Produtos Internos Brutos (PIBs) nacionais, segundo dados da Organização para o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Quando falamos em saúde, ela é um direito humano consagrado pela ONU, mas, em muitos países, esse direito enfrenta barreiras. Mesmo nas maiores economias do mundo, os sistemas nacionais frequentemente sofrem com subfinanciamento, dificuldade de acesso, longas filas e diagnósticos imprecisos.
Mas, como resolver isso? E como equilibrar a eficiência de hoje com a inovação de amanhã? A resposta pode estar na utilização da Inteligência Artificial, ela pode ser a chave para que os sistemas de saúde tenham mais eficiência com inovação surpreendente, ou seja, se bem empregada, ela pode redefinir a saúde, trazendo eficiência financeira e inovação clínica.
As ferramentas de IA já analisam imagens médicas com precisão impressionante, em que algoritmos detectam anomalias em exames de mamografia, por exemplo, muito mais rápido do que os melhores profissionais do mercado, reduzindo custos e acelerando com precisão o método diagnóstico. Em emergências, a IA pode priorizar casos graves em prontos-socorros lotados, direcionando pacientes para o tratamento correto em tempo recorde.
A Inteligência Artificial é também uma ferramenta de inovação disruptiva. Por meio de monitoramento remoto, wearables, ela acompanha pacientes crônicos, alertando médicos sobre mudanças no quadro clínico, antes que se tornem emergências. Isso não só melhora a qualidade de vida, mas também reduz custos desnecessários com hospitalizações.
Para que a IA alcance seu potencial, é crucial uma governança sólida, na sua implementação e utilização. Essa governança, bem organizada, garante o caráter ético do seu uso. Por exemplo, ao treinar algoritmos com dados diversos, evitaremos diagnósticos que discriminam grupos minoritários. Além disso, regulamentações claras asseguram que os recursos públicos sejam usados de forma transparente, evitando vieses e desperdícios.
Apesar de todo o seu potencial, a adoção da IA enfrenta desafios. O investimento inicial é alto, e os sistemas de saúde subfinanciados hesitam em apostar em tecnologias novas. Além disso, a resistência de profissionais e a falta de capacitação podem frear o progresso de sua utilização, mantendo os sistemas atuais na mesmice. Neste contexto, é essencial a implementação de programas de treinamento, pois essa abordagem bem-feita pode transformar resistência em colaboração, beneficiando de maneira assertiva os pacientes.
A utilização da IA não é uma bala de prata para resolver todos os desafios dos sistemas de saúde, mas é uma aliada poderosa para tornar realidade o direito universal à saúde, não apenas um ideal. Os sistemas de saúde, se bem organizados, podem oferecer atendimento universal, equânime e eficaz, com sua implementação de forma planejada, com governança ética e foco no paciente.
Financeiramente, ela é um investimento inteligente, pois melhora a alocação de recursos, contribuindo para aprimorar os métodos diagnósticos e os resultados nos desfechos dos quadros clínicos. Por fim, no Brasil, onde o orçamento da saúde é limitado, a IA pode ser a diferença entre um sistema colapsado e um modelo sustentável. No fim, a questão não é se a IA salvará os sistemas de saúde nacionais, mas como podemos usá-la para equilibrar o cuidado e garantir a melhor alocação dos recursos escassos em saúde, para que, enfim, o direito à saúde das pessoas seja realmente um direito de todos.
Texto originalmente publicado no blog Gestão e Negócios do Estadão, uma parceria entre a FGV EAESP e o Estadão, reproduzido na íntegra com autorização.
Os artigos publicados na coluna Blog Gestão e Negócios refletem exclusivamente a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, a visão da Fundação Getulio Vargas ou do jornal Estadão













