Autores:
Eduardo Chukr
Head de Finanças Corporativas e Planejamento Integrado na Hershey da América Latina e com carreira consolidada em multinacionais. É aluno do Doutorado Profissional de Finanças da FGV EAESP.
Jorge Carneiro – jorge.carneiro@fgv.br
Professor Associado de Estratégia e Negócios Internacionais e Associate Dean do programa OneMBA (MBA executivo global) da FGV EAESP. jorge.carneiro@fgv.br
A inteligência artificial (IA) está emergindo como uma das inovações mais promissoras na governança corporativa, prometendo revolucionar a maneira como as decisões estratégicas são tomadas nas organizações. Além das melhorias sobre eficiência e acuracidade operacionais que já estão presentes na atual evolução digital, a IA evolui gradativamente de forma a garantir o alinhamento entre os interesses dos agentes decisores com os objetivos organizacionais. Essa garantia é feita através da possibilidade de análise imparcial, baseada em dados e sem a influência de vieses cognitivos e emocionais humanos. Isso mitigará possíveis comportamentos oportunistas ou decisões visando benefícios pessoais em detrimento dos interesses dos acionistas.
Na prática, pode-se entender que a gestão estratégica organizacional será compartilhada entre homens e máquinas. Algoritmos de IA podem considerar uma ampla gama de cenários e resultados, baseando-se em dados históricos e tendências atuais e, por tal, auxiliar e monitorar continuamente as decisões humanas e seus impactos. Assim, ela fornecerá feedback em tempo real que pode ser usado para ajustar estratégias e corrigir desvios antes que eles causem danos significativos. Isso é particularmente relevante no âmbito da teoria de agência, onde a transparência e a simetria de informações são essenciais para uma boa governança.
Dentro de tal contexto, empresas pioneiras já estão integrando racionalidade digital em suas estruturas de diretorias e conselhos. “Alicia T.”, da Tieto, é uma IA membro oficial do conselho de administração que, criada a partir de algoritmos de aprendizagem automática, auxilia os diretores a encontrarem informações e a tomarem decisões baseadas em dados que humanos não necessariamente pensariam. Assim, ela tem o potencial de criar algo ainda não previsto pelos membros do conselho e diretoria. No contexto de mercado, o “Einstein” da SalesForce demonstra como a IA pode participar de reuniões estratégicas, oferecendo insights baseados em dados que ajudam a evitar decisões impulsivas ou mal fundamentadas. Lançado em 2016, ano passado já era utilizado por dezenas de milhares de empresas no mundo e responsável por gerar 215 bilhões de previsões por dia para auxiliar decisões de vendas e de marketing.
No entanto, a adoção da IA na governança corporativa não está isenta de desafios. Questões éticas e legais sobre a responsabilidade das tomadas de decisão auxiliadas por máquinas precisam ser cuidadosamente analisadas. É válido ressaltar que a IA não possui autoconsciência ou identidade legal e, em contraste com executivos humanos, como diretores ou conselheiros, não resguarda patrimônio, obrigações a preservar, reputação social ou identidade profissional para balizar os riscos das suas decisões de cunho legal, social ou ambiental.
Àqueles que desejam criar uma jornada digital bem-sucedida, a chave para uma implementação da IA na governança corporativa reside no desenvolvimento de sistemas que complementem as capacidades humanas e introduzam um nível de objetividade e análise que só a tecnologia pode proporcionar. Porém, isso jamais pode substituir as responsabilidades humanas primordiais dentro de conselhos e diretorias. Ao investir na integração entre IA e decisores humanos, a organização promoverá decisões mais informadas e imparciais. Além disso, também fortalecerá a confiança dos acionistas na capacidade da organização de navegar em um ambiente de negócios cada vez mais complexo e dinâmico.
Neste cenário, as empresas que adotarem a IA de maneira estratégica e ética estarão na vanguarda da transformação digital, garantindo uma governança mais eficiente, orientada a dados e baseada em evidências, capaz de maximizar o valor organizacional de forma sustentável e responsável. A revolução impulsionada pela IA está apenas começando, e seu impacto na governança corporativa promete ser profundo e duradouro.