Os ecossistemas empreendedores (EEs) são redes complexas que reúnem startups, grandes empresas, governos, universidades e investidores. Embora muitas dessas redes se desenvolvam organicamente, há um papel fundamental exercido pelos agentes que articulam o ecossistema, que coordenam e impulsionam o ambiente empreendedor. Eles são chamados orquestradores. Mas qual o impacto da harmonia entre esses orquestradores para o sucesso do ecossistema? Um estudo conduzido por pesquisadores da FGV EAESP explora essa questão, analisando como a colaboração e o alinhamento entre os orquestradores podem influenciar os resultados dos EEs.
A pesquisa foi realizada por Juliana Bonomi Santos e André Cherubini Alves, da FGV EAESP, em colaboração com Bruno Fischer e Philip Roundy. O estudo encontra-se na revista Entrepreneurship Theory and Practice. Para entender a dinâmica desses agentes, os orquestradores, os pesquisadores realizaram um estudo de caso aprofundado no AgTech Valley, em Piracicaba (SP), incluindo entrevistas com 11 orquestradores e 9 startups (agtechs) do ecossistema, além da análise de documentos e participação em eventos locais.
Os pesquisadores identificaram duas dimensões da coerência no ecossistema:
- Coerência de Capacidades – ocorre quando os orquestradores compartilham conhecimentos e habilidades complementares, permitindo uma colaboração eficiente para o desenvolvimento do ecossistema. No AgTech Valley, os orquestradores demonstraram grande proximidade cognitiva, pois todos estavam focados em inovação agrícola e na criação de novos modelos de negócios.
- Coerência de Relacionamento – envolve laços sociais e institucionais entre os orquestradores. O estudo revelou que, embora houvesse um forte espírito de cooperação e confiança entre os atores do AgTech Valley, a proximidade institucional era limitada, já que diferentes organizações possuíam valores e métodos de trabalho distintos.
A pesquisa destaca que a coerência entre os orquestradores influencia diretamente três aspectos essenciais para a sustentabilidade do ecossistema:
- Disponibilidade de Recursos: ecossistemas mais coesos conseguem atrair e distribuir melhor os recursos disponíveis para startups e novos negócios.
- Resultados Empreendedores: maior colaboração entre orquestradores fortalece a inovação e a criação de novos modelos de negócios.
- Condições Habilitadoras: a sinergia entre os orquestradores melhora as condições institucionais, permitindo um fluxo mais eficiente de investimentos e conhecimento.
A pesquisa reforça que a orquestração eficaz dos ecossistemas empreendedores não depende apenas de ações isoladas, mas de um alinhamento estratégico entre os atores-chave. No AgTech Valley, a proximidade cognitiva e a colaboração social foram fundamentais para impulsionar a inovação no setor agrícola. No entanto, a falta de proximidade institucional representa um desafio para integrar ainda mais os esforços dos orquestradores.
Por fim, o estudo contribui para a compreensão sobre como a coerência influencia a dinâmica dos ecossistemas empreendedores. Também oferece ideias para gestores e formuladores de políticas que desejam fortalecer ambientes inovadores.
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