O ritmo de crescimento do consumo e varejo no Brasil deve perder força nos próximos trimestres. Essa é a principal conclusão da quarta edição do Indicador de Tendência de Consumo e Varejo (ITCVcev) publicada em junho de 2025 pelo pesquisador Ricardo Meirelles de Faria, do Centro de Excelência em Varejo da FGV EAESP (FGVcev), em parceria com a FFC-MDS Serviços Financeiros.
O relatório analisa o desempenho recente da economia com base nas Contas Nacionais do primeiro trimestre de 2025. Além disso, observa dados do comércio varejista (PMC/IBGE) e tendências macroeconômicas que afetam o consumo das famílias brasileiras. O ITCVcev é um indicador exclusivo da FGV e reúne dados públicos de diferentes fontes e calcula uma média ponderada de quatro variáveis-chave que impactam o varejo:
- Massa de renda das famílias;
- Crédito à pessoa física (ajustado pela inflação);
- Confiança do consumidor (medida pelo IBRE-FGV);
- Nível de endividamento das famílias.
Sendo assim, o pesquisador utiliza modelos econométricos para projetar o comportamento do setor varejista nos próximos 18 meses. Nesta edição, os modelos foram ajustados para baixo, refletindo a combinação de fatores internos e externos que sinalizam um cenário de menor crescimento.
Resultados e projeções: consumo e varejo desaceleram, crédito encarece
Apesar de o PIB brasileiro seguir com desempenho estável — impulsionado principalmente pela agropecuária — o setor varejista já mostra sinais de desaceleração. A estimativa de crescimento do ITCVcev para 2025 caiu de 3,03% para 1,10%. Para 2026, a projeção é ainda mais modesta: crescimento de apenas 0,56%.
No varejo restrito, que exclui veículos e materiais de construção, o crescimento previsto é de 2,2% em 2025 e 1,0% em 2026. Já no varejo ampliado, que inclui esses dois segmentos, as estimativas são ainda mais conservadoras: 1,13% em 2025 e queda de 0,42% em 2026.
Além disso, o aumento dos juros impacta diretamente o custo do crédito, que pode chegar a quase 48% ao ano em operações com recursos livres até o final de 2025. A inadimplência também subiu, atingindo 4,1% em abril.
Renda e confiança do consumidor preocupam
Outro ponto de atenção do relatório é a massa de renda das famílias, que cresce em ritmo menor do que observado no final de 2024. A previsão de crescimento é de 3,21% em 2025 e apenas 1,42% em 2026. A confiança do consumidor, que apresentou leve melhora em maio, ainda está em queda quando comparada ao ano anterior.
O relatório também chama atenção para a dificuldade de coordenação entre as políticas fiscal e monetária. O ajuste fiscal tem sido adiado, o que sobrecarrega a política de juros e reduz sua efetividade. Portanto, isso gera efeitos colaterais na economia real, como crédito mais caro, crescimento tímido e aumento do endividamento.
Por fim, o autor alerta que o cenário exige atenção: embora o Brasil tenha começado bem o ano, sustentado pela agropecuária, a continuidade desse desempenho depende de ajustes estruturais nas contas públicas e de medidas que estimulem o consumo de forma sustentável.