Analisando os últimos 50 anos, o pesquisador Luiz Carlos Bresser-Pereira, da FGV EAESP, publica na edição comemorativa dos 60 anos da RAE (Revista de Administração de Empresas) um artigo que discute a nova organização social que surge depois do capitalismo neoliberal financeiro-rentista, que o autor denomina como “gerencialismo democrático”.
O argumento de Bresser-Pereira é que desde 2008, quando o capitalismo chegou a uma crise terminal, os capitalistas deixaram de controlar o processo de acumulação de capital e inovação que os legitimava, fazendo com que o modelo capitalista deixasse de produzir desenvolvimento econômico e progresso humano. A partir de então, uma classe de gerentes ou tecnoburocratas voltou a se fortalecer e construir o núcleo da nova coalizão de classes dominantes. “A democracia vem enfrentando bem o desafio autoritário, e é possível prever que ela se aprofundará no gerencialismo democrático”, defende o autor.
A expectativa do pesquisador é que o gerencialismo democrático mantenha muitas das características do capitalismo – como lucros e acumulação de capital, trabalho assalariado e coordenação de mercados de setores competitivos. A principal diferença será que a coordenação econômica da economia será feita de acordo não com a lógica do liberalismo econômico (que fracassou), mas do desenvolvimentismo. Dessa forma, entende-se que a classe gerencial dos gestores privados e funcionários públicos passará a ter papel estratégico de comandar o processo de acumulação e inovação do capital – e, portanto, a tarefa de governar.
“Os políticos profissionais definirão as reformas econômicas e as políticas públicas exigidas como representantes do povo, dotados de maior responsabilidade e autonomia em relação aos ricos”, sintetiza Bresser-Pereira, que reforça que os políticos profissionais representarão os vários setores da sociedade, incluindo os setores capitalistas, mas não representarão principalmente a classe capitalista. “Esses políticos trabalharão em uma série de reformas institucionais que tornarão suas candidaturas mais independentes do financiamento pelos capitalistas e gestores ricos”, conclui o pesquisador.
Confira o artigo na íntegra na edição comemorativa de 60 anos da RAE.
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