A cidade de Lafayette, no sul dos Estados Unidos, um antigo polo industrial de petróleo e gás, passa por uma transição para a economia digital com o despontar de indústrias ligadas à pesquisa, ciência e inovação. Em artigo publicado na revista “Brazilian Business Research”, o pesquisador da FGV EAESP Anderson Souza Sant’anna e colaboradores explicam que o controle do capital econômico e cultural pela população branca está em processo de disputa com valores coletivos e comunitários associados a outros grupos demográficos, como as populações negra e latina, que podem trazem menos foco ao consumismo e valorização das relações interpessoais, contribuindo para a indústria criativa local.
Os autores realizam análise histórica da cidade, localizada no estado de Louisiana, e seus arredores através de entrevistas com 20 pessoas conhecedoras dos processos históricos da região ou envolvidas em mudanças sociais e econômicas recentes. Assim, a pesquisa descreve as alterações da dinâmica socioespacial de Lafayette a partir das tensões entre grupos de diferentes etnias e identidades: descendentes de colonos britânicos e franceses, descendentes de exilados canadenses de língua francesa (cajuns), afrodescendentes, descendentes de colonos hispânicos, italianos e alemães, descendentes de pessoas escravizadas libertas e indígenas Atakapa.
Empreendedorismo nos EUA está associado às características de grupos étnicos
Ao contrário do Brasil, em que o sucesso ou fracasso do empreendimento é diretamente associado à figura individual do empreendedor, o empreendedorismo visto em Lafayette se relaciona com a cultura norte-americana. “Se no Brasil se tende a definir os “tipos” de empreendedores por suas características como empresário, em Lafayette, tal construção tende a se dar a partir de características dos grupos étnicos e sociais a que se ligam os indivíduos: europeus, afrodescendentes, latinos, cajuns e assim por diante”, explica o artigo.
No caso de Lafayette, o artigo aponta que o capital econômico, como a posse de bens materiais e fatores de produção, mobiliza outras esferas de disputa de poder, como o capital simbólico, que consiste no acúmulo de prestígio de um indivíduo para a construção de uma legitimação social, conforme definições do sociólogo Pierre Bourdieu.
O primeiro grande embate na região, com a opressão econômica, social e cultural dos colonos brancos sobre a população indígena no século XIX, pautou conflitos posteriores. Porém, diante da transição para a quarta revolução industrial, marcada por rápidos avanços tecnológicos, e pelo esgotamento de modelos neoliberais, os autores atentam para as vantagens competitivas dos capitais sociais e simbólicos de outros grupos, como os cajuns.