A demanda global por minerais críticos — como lítio, cobalto, níquel e terras raras — cresce rapidamente com o avanço da transição para energias limpas e o uso de tecnologias como baterias, veículos elétricos e inteligência artificial. No entanto, o acesso a esses recursos vitais está cada vez mais marcado por disputas geopolíticas, sanções comerciais e riscos ambientais. Como evitar que os minerais da transição verde se tornem o “novo petróleo”, concentrado nas mãos de poucos e motivo de conflito?
Para responder a essa questão urgente, cientistas das Nações Unidas, com participação do professor José A. Puppim de Oliveira, da FGV EAESP, publicaram um artigo na revista Science, propondo a criação de um Fundo Global de Minerais. Essa é uma solução cooperativa para promover a paz, a justiça e a sustentabilidade no comércio desses recursos.
O artigo foi publicado no Policy Forum da revista Science pela equipe da Universidade das Nações Unidas (UNU-INWEH), com coautoria de pesquisadores de diferentes países. A publicação sintetiza evidências e propostas com base em estudos anteriores e experiências internacionais de governança de recursos naturais. Além disso, o texto destaca como o G7 pode liderar a implementação dessa ideia a partir da presidência canadense em 2025.
Da exploração à cooperação: um novo modelo de governança mineral
A proposta do Fundo é criar uma plataforma neutra e multilateral para facilitar o comércio de minerais essenciais. Tudo isso com mecanismos de auditoria independentes, transparência nas negociações e respeito à soberania dos países. Portanto, a ideia é garantir preços justos, evitar interrupções politizadas no fornecimento e apoiar os países em desenvolvimento com assistência técnica e acesso à tecnologia verde.
Os países participantes manteriam controle sobre seus recursos, mas se comprometeriam com regras que priorizam o uso desses minerais em tecnologias sustentáveis. Além disso, proíbem seu uso como instrumento de pressão política. O Fundo funcionaria como uma espécie de “bolsa internacional” para minerais. Ela estimula a economia circular, o reaproveitamento e a reciclagem, além de reduzir os danos ambientais da mineração descontrolada.
Justiça climática e segurança internacional com o Fundo de Minerais
Com base em modelos já utilizados por organismos como a Agência Internacional de Energia Atômica, o Fundo também serviria como um instrumento de justiça global. Ele garantiria que países produtores recebessem uma compensação justa por seus recursos e pudessem desenvolver indústrias locais para agregar valor aos minerais, contribuindo para seu próprio progresso econômico e ambiental.
Além disso, o Fundo busca prevenir conflitos comerciais, evitar cartéis e proteger cadeias de suprimento vitais para o futuro energético do planeta. Segundo os pesquisadores, é a chance de substituir o modelo extrativista pela administração responsável dos recursos.
Por fim, o Fundo Global de Minerais oferece uma alternativa concreta e viável à fragmentação atual do comércio de minerais. Ao invés de rivalidades geopolíticas e exploração predatória, propõe uma governança baseada em cooperação, justiça e sustentabilidade. Se implementada, a proposta pode garantir que a transição verde seja, de fato, justa — beneficiando não apenas países poderosos, mas toda a humanidade.
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