Projetos complexos envolvem contratos de longa duração e execuções de alta capacidade tecnológica, e podem gerar incertezas em relação a prazos, custos totais e equipe envolvida. Assim, relacionamentos colaborativos baseados na confiança entre compradores no setor público e seus fornecedores são fundamentais para evitar conflitos na cadeia de suprimentos e expandir o escopo da parceria. É o que aponta estudo de autoria da pesquisadora da FGV EAESP Juliana Bonomi Santos em parceria com Sandro Cabral, pesquisador do Insper.
Através de entrevistas com as equipes envolvidas, publicações na mídia e relatórios do Ministério da Defesa publicados entre 2015 a 2018, os autores analisam dois casos: a compra de um avião de transporte militar para a Aeronáutica e a aquisição de um sistema integrado de monitoramento de fronteiras pelo Exército. Ambos os projetos têm em comum a meta de inclusão de empresas nacionais na cadeia de suprimentos, além de bom desempenho operacional.
O projeto da Aeronáutica apresentou desempenho superior ao do Exército porque utilizou abordagem mais colaborativa entre os compradores e os fornecedores principais. A confiança mútua na capacidade das partes envolvidas para seleção dos melhores fornecedores, por exemplo, ajudou a reduzir custos e prazos. Essa abordagem foi viabilizada pela maior capacidade dos compradores de gerenciar o processo de contratação, expor os resultados do projeto para o Tribunal de contas da União, e minimizar perdas de conhecimento devido à elevada rotatividade de pessoal.
A equipe do Exército, por sua vez, tinha experiência limitada na compra de sistemas complexos. Teve mais dificuldade para gerenciar o processo de contratação e a relação com órgãos públicos de compliance e sofreu com a alta rotatividade de funcionários ao longo do processo. A meta de 75% de nacionalização dos fornecedores foi alcançada, mas houve atraso significativo na conclusão do projeto e dificuldade em atingir o escopo definido.
Desta forma, os autores apontam que a capacidade de contratar e licitar deve ser acompanhada por habilidades para organizar e sistematizar as informações estratégicas. Em acréscimo, é preciso equilibrar a responsabilidade exigida pelos setores de compliance com a flexibilidade na escolha das contratações. Considerar o histórico de relações pode ser um critério importante para selecionar fornecedores.