Ao observar o campo das políticas de educação, pesquisadores encontraram um tipo específico de populismo de direita, que é impulsionado por uma aliança entre os movimentos “Escola Sem Partido” e a “Frente Parlamentar Evangélica”, que tem influenciado as políticas públicas de educação da última década.
Desde a redemocratização, na década de 1980, as políticas públicas buscaram garantir uma política educacional pública com caráter progressista e inclusivo, que tem sido ameaçada pelo crescimento do ativismo populista de direita, que através de um mecanismo conhecido como “othering“, tem vilanizado grupos específicos da sociedade, como mulheres, negros, grupos LGBTQI+ e educadores, que são apontados como “ameaças à família cristã”. “Esse é um processo eu se desenvolve há mais de uma década, mas que atinge uma grande visibilidade no momento atual, por conta dos arranjos que levam ao desmonte de vários mecanismos que garantem políticas de educação mais inclusivas”, alerta Mario Aquino Alves, um dos autores do estudo.
O estudo envolveu a análise de diferentes tipos de dados, entre pronunciamentos, projetos de lei, notas de mídia e documentos. Construindo uma análise própria a partir de levantamentos anteriores do observatório de educação ‘De olho nos Planos” e da pesquisa de Andrea Dip, foi observado que entre 2014 e 2016 existiam 62 propostas legislativas em estados e municípios, que tinham projetos de lei inspirados pelo ‘Escola Sem Partido’. No nível federal, o estudo detectou 19 parlamentares (entre senadores e deputados federais), dentre os quais 11 eram filiados à Frente Parlamentar Evangélica, que propuseram projetos de lei inspirados pelo movimento ‘Escola Sem Partido’.
Por meio das análises, os pesquisadores concluíram que a articulação de um discurso populista de direita calcado nos tais mecanismos de “othering” leva ao afastamento de interlocutores importantes nos espaços de deliberação pública de políticas de educação. “Esse agastamento promove a possibilidade de ocupação política destes espaços, além de promover uma agenda não-inclusiva nas políticas de educação”, alerta Alves.