Mauro Loureiro Junior, Doutorando do DBA FGV e Diretor de Operações.
A comunicação sempre esteve no centro da liderança eficaz. Tradicionalmente, líderes inspiram, motivam e orientam equipes através de encontros presenciais, discursos impactantes e feedbacks periódicos. Estudos clássicos, como o de Bartram (2005), apontam a comunicação eficaz como uma das competências mais importantes para líderes, associada à capacidade de influenciar e direcionar pessoas de forma estratégica, mantendo equipes alinhadas e focadas nos objetivos organizacionais.
No entanto, o avanço das tecnologias digitais gerou uma transformação profunda nessa competência tradicional. Segundo Bain & Company (2023), essa mudança tecnológica é uma macrotendência global e irreversível, afetando todos os setores e redefinindo práticas essenciais nas organizações, especialmente na liderança. As empresas que não se adaptarem a essas mudanças correm o risco de perder competitividade e relevância no mercado atual, altamente conectado e dinâmico.
Atualmente, a liderança tornou-se sobretudo digital, exigindo dos líderes uma comunicação adaptada a múltiplos canais e contextos virtuais. Plataformas colaborativas como Slack, Teams, Zoom e Google Meet, além de tecnologias emergentes como inteligência artificial e realidade virtual, moldaram um novo cenário comunicacional. Um estudo recente da Harvard Business Publishing (2024) reforça essa visão, destacando que 43% das organizações já incorporam inteligência artificial e aprendizado de máquina em suas operações. Líderes precisam não só dominar ferramentas tecnológicas, mas também adaptar sua comunicação para garantir engajamento constante e eficaz das equipes, que muitas vezes estão distribuídas geograficamente e trabalham em horários variados.
Essa nova realidade implica desafios práticos claros. Líderes precisam agora manter uma presença contínua e simbólica em ambientes virtuais. Reuniões virtuais, por exemplo, exigem uma abordagem participativa e flexível, muito diferente das tradicionais reuniões presenciais expositivas. Conforme aponta o Business Insider (2025), líderes eficazes são aqueles que adaptam sua comunicação às preferências individuais das equipes, promovendo interações frequentes e usando recursos audiovisuais eficazes para criar conexões emocionais à distância, minimizando os efeitos negativos da falta de proximidade física.
Outro ponto relevante é o feedback contínuo. Diferente do modelo tradicional, em que o feedback era esporádico e formal, no ambiente digital ele precisa ser constante, imediato e adaptado às peculiaridades de cada canal utilizado. A agilidade e assertividade no feedback digital são decisivas para o desempenho das equipes e ajudam a criar uma cultura organizacional que valoriza a aprendizagem contínua e a rápida adaptação às mudanças.
Além disso, líderes digitais enfrentam o desafio de gerenciar a diversidade cultural com sensibilidade, especialmente em equipes distribuídas globalmente. Uma comunicação intercultural estruturada e adaptada aos diferentes contextos digitais é essencial para manter equipes coesas, produtivas e inovadoras. Isso inclui compreender nuances culturais, adotar uma linguagem inclusiva e respeitar diferentes fusos horários e práticas de trabalho.
A comunicação digital também inclui o uso estratégico de assistentes de inteligência artificial como ChatGPT e Microsoft Copilot. De acordo com Zia et al. (2024), líderes que integram esses recursos em suas rotinas conseguem reduzir o tempo de resposta em até 37% e melhoram a clareza da comunicação, especialmente em equipes multiculturais. Contudo, é fundamental que os líderes estejam atentos a questões éticas e ao impacto dessas tecnologias nas relações interpessoais.
Portanto, desenvolver líderes hoje significa priorizar competências comunicacionais digitais, reconhecendo-as como essenciais para a eficácia imediata da liderança. Treinamentos e programas de desenvolvimento precisam focar em fluência digital, ética em inteligência artificial, gestão da comunicação virtual e novas normas de etiqueta digital. A comunicação digital já não é uma visão futura, mas uma necessidade atual.
Líderes eficazes são aqueles que conseguem comunicar-se com clareza, empatia e propósito, dominando plenamente as potencialidades das novas tecnologias e garantindo que suas equipes estejam preparadas para enfrentar os desafios de um mercado em constante evolução.
Referências e fontes
Bain & Company. (2023). Global macro trends report 2023: Technology as a driver of transformation. Recuperado de https://www.bain.com
Bartram, D. (2005). The great eight competencies: A criterion-centric approach to validation. Journal of Applied Psychology, 90(6), 1185-1203. https://doi.org/10.1037/0021-9010.90.6.1185
Business Insider. (2025). How bosses communicate in the Slack era: Adapting to employee preferences. Recuperado de https://www.businessinsider.com/how-boss-communicates-workers-slack-era-managers-hr-expert-2025-4
Harvard Business Publishing. (2024). 2024 Global leadership development study. Recuperado de https://www.harvardbusiness.org/leadership-learning-insights/2024-global-leadership-development-study
Zia, A., Khan, M. A., & Khan, N. U. (2024). Digital communication, leadership and innovation: Evidence from tech firms. Technological Forecasting and Social Change, 197, 122888. https://doi.org/10.1016/j.techfore.2023.122888
Texto originalmente publicado no blog Gestão e Negócios do Estadão, uma parceria entre a FGV EAESP e o Estadão, reproduzido na íntegra com autorização.
Os artigos publicados na coluna Blog Gestão e Negócios refletem exclusivamente a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, a visão da Fundação Getulio Vargas ou do jornal Estadão