A inovação social tem sido apontada como um caminho promissor para reduzir desigualdades e promover mudanças significativas na sociedade. No entanto, grande parte das abordagens sobre o tema não questiona as estruturas que perpetuam a exclusão social. O estudo “Deslocando as periferias para o centro: A tecnologia social reinventando repertórios e territórios” propõe uma nova perspectiva, baseada na tecnologia social. Ela valoriza o conhecimento local e desafia a relação colonial entre centro e periferia.
O artigo é da professora Marlei Pozzebon, da FGV EAESP, em parceria com os pesquisadores Fabio Prado Saldanha e Natalia Aguilar Delgado e publicado na revista Organization. O estudo adotou uma abordagem qualitativa, com observação participante e entrevistas aprofundadas com jovens envolvidos na Agência de Redes para a Juventude. A organização tem sedes no Rio de Janeiro, Londres e Manchester.
Tecnologia Social e Reconfiguração Sociotécnica
A Agência é um exemplo concreto de tecnologia social que promove transformações em favelas, capacitando jovens a assumirem o protagonismo na criação de soluções para suas comunidades. Assim, a pesquisa destaca como esse processo ocorre por meio da reconfiguração sociotécnica, que combina ferramentas metodológicas, artefatos e discursos para ressignificar territórios e identidades.
Decolonização do Imaginário e Autonomia Local
O estudo aponta que a tecnologia social não apenas oferece novas oportunidades, mas também desafia o imaginário colonial que retrata as periferias como espaços carentes de inovação. A Agência incentiva os participantes a reconhecerem seus próprios recursos e potencialidades, promovendo a autonomia e a emancipação comunitária.
Portanto, os jovens envolvidos no projeto passam por uma série de atividades que os ajudam a identificar oportunidades e desenvolver seus próprios projetos. A metodologia da Agência inclui a produção de:
- Inventário: Reflexão sobre objetos do cotidiano para identificar potenciais escondidos na comunidade.
- Mapas: Criação de representações cartográficas para visualizar recursos locais.
- Gabinete de curiosidades: Coleta e catalogação de elementos simbólicos da periferia.
- Abecedário: Exercício criativo para estruturar novas ideias de projetos.
- Bestiário: Representação de desafios locais na forma de monstros, estimulando soluções inovadoras.
Desse modo, a pesquisa reforça que iniciativas de tecnologia social podem transformar periferias em espaços de inovação e resistência, promovendo mudanças estruturais e questionando paradigmas tradicionais. Além disso, ao integrar saberes locais e acadêmicos, a Agência de Redes para a Juventude exemplifica como a decolonialidade pode ser aplicável, gerando impacto real e duradouro.
Por fim, essa abordagem não apenas empodera os jovens, mas também redefine a maneira como as periferias são vistas e tratadas pela sociedade, deslocando-as para o centro das discussões sobre inovação e transformação social.
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