Além de combater desigualdades, uma tecnologia social criada na periferia do Rio de Janeiro contribui para questionar saberes dominantes e impostos no processo de colonização do Sul global. Artigo com participação da pesquisadora da FGV EAESP Marlei Pozzebon publicado na revista “Organization” constata que um programa de treinamento em que jovens de favelas desenvolvem projetos em benefício de suas comunidades contribui para a transformação social em nível individual e coletivo.
Trata-se de um estudo de caso sobre a Agência de Redes para a Juventude, criada por moradores de periferias da cidade do Rio de Janeiro e atuante desde 2013 em pelo menos dez favelas. Em 2015, a metodologia própria da iniciativa passou a ser replicada em cidades britânicas e recebeu recursos de fundo do Reino Unido em 2021 para apoiar projetos de inovação social na região. Os pesquisadores realizaram observação participante e entrevistas com integrantes da Agência no Brasil e no Reino Unido. Os dados foram colhidos entre 2013 e 2019.
Tecnologia social valoriza protagonismo local
Entre as ferramentas metodológicas observadas pelo estudo, estão os inventários, em que participantes listam artefatos de sua vida cotidiana. Um dos participantes relata, por exemplo, que descobriu possíveis parceiros para o projeto ao fazer um inventário de pessoas que conhecia. Outra ferramenta utilizada é a produção de mapas, que permitem a visualização de possibilidades e limites de futuras intervenções nos territórios.
As tecnologias sociais são uma inovação social própria do Sul global, mais especificamente da América do Sul, que questiona a hegemonia das tecnologias ocidentais valorizando o protagonismo local. Trata-se de um processo alinhado à justiça epistêmica, ou seja, à luta pelo reconhecimento de saberes populares e de suas ferramentas e métodos, explica o artigo.