A qualidade e a reputação dos vinhos usualmente estão conectadas às regiões onde são produzidos. Dessa forma, o conceito de Indicação Geográfica (IG) surge como um mecanismo institucional que protege e valoriza produtos com características únicas associadas a determinado território. No Brasil, o Vale dos Vinhedos (RS) foi a primeira região a conquistar esse selo em 2002. Nesse contexto, os pesquisadores Luciana Marques Vieira (FGV EAESP), Jefferson Monticelli (Unisinos) e Tatiane Cislaghi (IFRS) , publicaram na Journal of Business & Industrial Marketing uma pesquisa que analisou como instituições influenciam a evolução de uma IG ao longo do tempo, promovendo a cooperação entre concorrentes e o fortalecimento do setor.
O estudo utilizou uma abordagem qualitativa, coletando dados de 33 representantes da indústria vinícola em três períodos distintos ao longo de 10 anos. Os pesquisadores conduziram entrevistas estruturadas e não estruturadas, além de análise de documentos oficiais e observação direta. A pesquisa foca no Vale dos Vinhedos para entender a relação entre coopetição e instituições formais e informais na criação, captura e possível destruição de valor na indústria vinícola.
A pesquisa revelou que a coopetição – estratégia que combina cooperação e competição – foi fundamental para o sucesso da Indicação Geográfica no Vale dos Vinhedos.
A troca de experiências entre vinícolas e o desenvolvimento de estratégias conjuntas resultaram em um posicionamento internacional mais forte para os vinhos brasileiros. Eventos, feiras e certificações ajudaram a consolidar a reputação da região, atraindo consumidores e investidores.
Entretanto, o crescimento da IG também trouxe desafios. A entrada de novos participantes no cluster, nem sempre comprometidos com a qualidade e os padrões da IG, gerou preocupações entre produtores tradicionais. Além disso, o aumento da especulação imobiliária na região ameaçou a expansão da viticultura e do enoturismo, colocando em risco o valor criado ao longo do tempo.
Para mitigar esses riscos, instituições formais, como o Conselho Municipal de Planejamento do Vale dos Vinhedos, atuaram para garantir o cumprimento das diretrizes da IG. No entanto, conflitos surgiram entre pequenas, médias e grandes vinícolas quanto à distribuição dos benefícios gerados pela certificação. Algumas vinícolas alegaram que as empresas de maior porte estavam capturando a maior parte do valor, em detrimento das menores.
O estudo destaca que a IG foi essencial para o desenvolvimento econômico e social do Vale dos Vinhedos.
Ela contribuiu para a promoção da qualidade dos vinhos, do enoturismo e da sustentabilidade da região. No entanto, a governança da IG precisa evoluir para evitar a destruição de valor, garantindo um equilíbrio entre os interesses de diferentes agentes. A coopetição continua sendo uma estratégia eficaz para fortalecer a competitividade do setor, desde que seja acompanhada por políticas que preservem a identidade e os benefícios compartilhados da IG.
Por fim, este caso reforça a importância das Indicações Geográficas como ferramentas de valorização de produtos locais. Isso evidencia que sua manutenção exige esforços coletivos e regulamentação adequada para garantir sua longevidade e relevância no mercado global.
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