Quando falamos em inovação, muitos imaginam o Vale do Silício como o exemplo perfeito de ecossistema empreendedor. No entanto, pesquisas recentes mostram que não existe um único modelo para seguir. Cada região carrega sua própria história, cultura e setores econômicos que influenciam o desenvolvimento de novos negócios. Entender essa diversidade é fundamental para criar políticas públicas mais eficazes e ambientes realmente favoráveis ao empreendedorismo.
Os pesquisadores Bruno Fischer, André Cherubini Alves (FGV EAESP), Nicholas Vonortas e Ross Brown conduziram um estudo sobre o assunto e publicaram no periódico internacional The Journal of Technology Transfer. Eles combinaram teorias com dados empíricos recentes sobre ecossistemas empreendedores, para propor um modelo que integra múltiplas dimensões.
Todos os “ingredientes” dos ecossistemas empreendedores
Em primeiro lugar, os pesquisadores destacam que ecossistemas empreendedores são configurados por três camadas principais. No nível micro, estão os próprios empreendedores e sua inserção sociocultural, mostrando que a ação individual pode moldar todo o ecossistema. No nível meso, entram os setores econômicos que dão identidade a uma região — por exemplo, tecnologia da informação, agronegócio ou saúde. Já no nível macro, entram os elementos estruturais: características espaciais (como localização e conexões globais) e trajetórias históricas (o caminho que a economia local já percorreu).
Além disso, a pesquisa evidencia que copiar modelos de sucesso não garante resultados. Uma cidade que tenta replicar o Vale do Silício, sem considerar sua própria história e vocação setorial, pode fracassar. Portanto, é essencial valorizar os elementos locais e compreender que cada ecossistema é resultado de processos co-evolutivos únicos.
Outro ponto relevante é que as configurações mudam ao longo do tempo. O estágio de maturidade de um ecossistema influencia sua capacidade de atrair investimentos, formar redes de confiança e gerar inovações. Isso significa que as políticas devem ser flexíveis, adaptando-se a cada fase de desenvolvimento e evitando soluções padronizadas.
Por fim, os autores propõem um arcabouço meta-configuracional, ou seja, uma estrutura conceitual que ajuda a entender como as diferentes dimensões interagem entre si. Esse modelo amplia o debate, permitindo que acadêmicos e gestores públicos tenham uma visão mais realista e útil sobre como ecossistemas empreendedores realmente funcionam.
Em resumo, esses ecossistemas empreendedores não são fórmulas prontas, mas sim arranjos dinâmicos que refletem pessoas, setores, espaço e história. Reconhecer essa complexidade é o primeiro passo para construir ambientes de inovação mais sólidos e sustentáveis.
Leia o artigo na integra.
Nota: alguns artigos podem apresentar restrições de acesso.