A comunicação das emissões de carbono se tornou peça central das práticas de sustentabilidade corporativa. Mais de 75 % do mercado de capitais está sob algum controle de seus compromissos ou resultados em termos de sustentabilidade, e emissões de gases efeito estufa (GEE) é uma das principais demandas dos investidores. À medida que governos, investidores e consumidores cobram mais transparência, cresce também a necessidade de dados confiáveis. No entanto, empresas enfrentam um grande desafio: a imprecisão nos relatórios de carbono. Isso especialmente nas emissões indiretas (Escopo 3), que envolvem fornecedores e clientes ao longo de toda a cadeia de valor.
Essa incerteza, muitas vezes causada por dados incompletos ou inconsistentes, pode comprometer comparações entre empresas e dificultar decisões sustentáveis. Sendo assim, pesquisadores desenvolveram uma metodologia inovadora pioneira para reduzir esses erros e fortalecer a credibilidade dos inventários de carbono.
O estudo — conduzido por José Antonio Puppim (FGV EAESP), Peter Wanke (FGV EBAPE e FGV EAESP), Jorge Antunes (UFRJ) e Yong Tan (Universidade de Bradford) — foi publicado na revista Energy Economics. Os autores aplicaram o modelo em dados de mais de 200 empresas brasileiras que reportaram suas emissões ao Protocolo GHG entre 2017 e 2019.
Portanto, o modelo combina simulações probabilísticas (Monte Carlo) com a lógica fuzzy, uma técnica matemática capaz de lidar com dados ambíguos ou incompletos. Assim, o método trata tanto a aleatoriedade dos números quanto a imprecisão das informações, oferecendo uma análise mais realista dos impactos ambientais corporativos.
Revelando o impacto da imprecisão nos relatórios de carbono: nova metodologia ajuda empresas a divulgar dados mais confiáveis
Os pesquisadores observaram que as emissões de Escopo 3 são as mais imprecisas, devido à complexidade das cadeias de suprimentos. Setores com maior pressão regulatória ou voltados à exportação, como agricultura e energia elétrica, tiveram melhor desempenho na qualidade das informações. Porém, áreas como pesquisa e desenvolvimento e imóveis apresentaram maiores lacunas.
Além disso, o modelo mostrou que reduzir a imprecisão nos Escopos 2 e 3 é essencial para melhorar o desempenho ambiental das empresas. Essa precisão maior permite decisões estratégicas mais acertadas e comparações setoriais mais justas.
Para as empresas, o novo arcabouço funciona como uma ferramenta de diagnóstico: identifica áreas com dados incompletos e orienta investimentos em coleta e gestão de informações. Já para reguladores e auditores, ele oferece indicadores objetivos sobre o grau de incerteza nos relatórios, o que contribui para criar políticas e padrões mais eficazes.
Por fim, ao propor um novo modo de lidar com dados imprecisos, a pesquisa avança a agenda de transparência e responsabilidade ambiental, reforçando a importância de decisões baseadas em evidências confiáveis para acelerar o combate às mudanças climáticas.
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