Empresas multinacionais enfrentam o desafio de equilibrar o controle centralizado da matriz com a autonomia das subsidiárias. Para contribuir estrategicamente, subsidiárias estrangeiras precisam capturar a atenção da matriz ao apresentar propostas de ideias estratégicas. No entanto, esse processo é complexo e envolve desafios culturais, políticos e de comunicação. Um estudo conduzido por Renato Souza-Santos e Jorge Carneiro, da FGV EAESP, em parceria com Ulf Andersson, publicado na International Business Review, analisa como diferentes táticas influenciam a atenção recebida da matriz, especialmente considerando a distância cultural entre os países da matriz e da subsidiária proponente.
A pesquisa analisou 342 subsidiárias de multinacionais em 46 países, cujas matrizes estavam distribuídas por 26 nações diferentes. Dessa maneira, o estudo avaliou o impacto de diferentes abordagens na cognição gerencial da matriz, incluindo a apresentação de benefícios corporativos, a consistência entre a ideia apresentada e os valores e práticas da organização, apoio coletivo de outras subsidiárias e envolvimento profissional e social do gerente geral das subsidiárias com gestores da matriz.
Desafios e estratégias das subsidiárias estrangeiras
As subsidiárias que enfatizam benefícios para toda a empresa ao apresentar uma ideia tendem a obter mais atenção da matriz. No entanto, quando há grande distância cultural, a matriz pode interpretar essas propostas com desconfiança ou ter dificuldade para compreendê-las, reduzindo a eficácia dessa estratégia. Interessante notar que a consistência com os valores e práticas da matriz tende a ser valorizado por esta, mas quando a distância cultural entre matriz e subsidiária é muito alta, tal consistência diminui a atenção da matriz, o que abre oportunidade para subisdiárias culturalmente distante apresentarem ideias inovadores ou não alinhadas com as atuais práticas organizacionais.
O estudo revelou ainda que a colaboração entre subsidiárias pode ter efeitos opostos: quando a distância cultural é baixa, essa união fortalece o impacto da ideia. Porém, quando a distância cultural é alta, o esforço coletivo de vendada ideia pode gerar receio na matriz de insubordinação ou perda de controle. Outra estratégia relevante é a construção de relações sociais e profissionais com executivos da matriz. Ela se mostrou especialmente útil quando há grande distância cultural, facilitando a comunicação e a confiança.
Implicações para gestores
Os achados deste estudo oferecem reflexões práticas para gestores de subsidiárias que buscam influenciar decisões estratégicas da matriz. Construir conexões interpessoais com a liderança da matriz é essencial, principalmente em cenários de grande distância cultural. Além disso, ao apresentar ideias, as subsidiárias devem adaptar suas estratégias, considerando o contexto cultural e político da empresa. Para a matriz, compreender as barreiras culturais pode evitar a subestimação de propostas valiosas e melhorar a competência estratégica da multinacional como um todo.
Além disso, o estudo reforça que subsidiárias não são apenas executoras das diretrizes da matriz, mas também agentes estratégicos capazes de contribuir para a competitividade da organização globalmente. Sendo assim, a forma como apresentam suas ideias e constroem relações com a matriz pode definir sua capacidade de influenciar decisões corporativas e garantir a implementação de inovações locais com impacto global.
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