Um empreendedor iniciante inaugurou uma instituição de ensino com recursos escassos e estrutura limitada, assumindo gastos além do desejado, o que demandou estratégias arriscadas, como tomar empréstimos a juros altos. Apesar das despesas serem capazes de inviabilizar o negócio, o empreendedor obteve sucesso ao construir uma ampla rede de parcerias estratégicas e ao se valer de experiências anteriores no ramo da educação, que contribuíram para a descoberta de seu público-alvo. O caso é abordado em artigo publicado na revista “Amazônia, Organizações e Sustentabilidade” pelos pesquisadores da FGV EAESP Edson Urubatan Pinto de Andrade, Felipe Zambaldi, Andre Ofenhejm Mascarenhas e Jonny Mateus Rodrigues.
O trabalho é baseado no método autoetnográfico, em que o pesquisador escreve sobre suas vivências na situação que é objeto da pesquisa. O caso tratado pelo estudo é de uma organização fundada em 2003 no estado do Rio de Janeiro que oferece cursos preparatórios para concursos voltados às carreiras das Forças Armadas. O empreendimento cresceu nos anos seguintes com a abertura de colégios de ensino fundamental e médio. Além do relato da experiência a partir de documentos do arquivo pessoal do primeiro autor, o artigo se vale de nove entrevistas com ex-estudantes, colaboradores da empresa e parceiros sem vínculos laborais.
Parcerias estratégicas permitem que empreendedor reverta perdas e aproveite novas oportunidades
O artigo distingue duas abordagens de empreendedorismo denominadas Causation e Effectuation, alinhando-se a esta última. O processo causal se constitui na previsão de cenários e adaptação das estratégias para corresponder ao mercado existente e controlar os resultados. Já na perspectiva do Effectuation, o empreendedor se propõe a construir cenários, explorando todos os meios e condições disponíveis, não se limitando por objetivos. Uma de suas características é trabalhar na lógica de perda tolerável em vez de se basear no retorno esperado. A perda tolerável varia de acordo com as condições materiais e laborais de cada empreendedor.
No caso da organização estudada, criada sem análise de viabilidade econômica, o empreendedor viu seu endividamento crescer acima dos limites toleráveis, percebendo-se em risco de falência. Ele recorreu a estratégias como permutas de serviços e colaboração com outros empreendedores iniciantes, e percebeu estabilidade financeira a partir da expansão do perfil de clientes atendidos pela empresa. Assim, a trajetória do negócio corresponde à abordagem Effectuation, já que aproveitar as oportunidades de transformação da realidade foi fundamental para sua consolidação no mercado da educação e superação das adversidades.