Para organizações que possuem atividades em mais de um país, as diferenças nas culturas nacionais representam um desafio para manter a cultura organizacional alinhada. Como as organizações globais estão focadas em se transformar em organizações baseadas em conhecimento, esta pesquisa investiga o papel da cultura nacional nos KMs da organização Apple Inc. As estruturas de gestão do conhecimento (KMs) podem ser definidas como estruturas cujo objetivo é incentivar as pessoas a construir relacionamentos, redes e confiança.
O artigo publicado por pesquisadores da EAESP, Marcelo Gattermann-Perin, Alexeis Garcia-Perez, David Cegarra-Leiva, Juan Gabriel Cegarra-Navarro, na revista Knowledge and Process Management, identifica o papel da cultura nacional em quatro KMs, a saber, mente aberta (OM), contraconhecimento (CK), inovação ambiental (EF) e capital do cliente (CC). A mente aberta (OM) é a disposição para buscar ativamente evidências contra as próprias crenças, e pesar tais evidências de forma justa. A criação do contra conhecimento (CK) ocorre quando um indivíduo ou grupo cria interpretações inadequadas ou falsas de eventos. Já a inovação ambiental (EF) consiste em processos, técnicas e sistemas que evitam ou reduzem danos ambientais. Por fim, o capital do cliente (CC) é sobre o relacionamento de uma organização com seus clientes, que contribui para o clima financeiro atual e futuro dessa organização.
Os dados da pesquisa foram coletados aleatoriamente em dois países, Brasil e Itália, por meio de uma pesquisa eletrônica que apresentava diversas afirmações e o usuário escolhia uma opção numa escala entre concordo plenamente até discordo plenamente. Um total de 285 respostas válidas foram consideradas. As perguntas tiveram testes de confiabilidade e validade asseguradas. Os KMs foram desmembrados em perguntas como “A Apple parece ser aberta a novas ideias”, “A Apple não usa substâncias tóxicas em seus produtos”, “Há histórias maliciosas sobre funcionários da Apple que frequentemente levam a mal-entendidos” e “Eu compraria novamente um produto da Apple”.
Aspectos que definem as diferenças culturais entre esses dois países tornam-se, portanto, conceitos-chave que fundamentam esta pesquisa. Para isso, utilizou-se do modelo de 6 dimensões de cultura nacional, que são visões e valores implícitos ou explícitos compartilhados em grande parte pelos membros de uma nação. O modelo se divide em distância do poder, individualismo versus coletivismo, masculinidade versus feminilidade, evitar incertezas e orientação de longo prazo versus orientação de curto prazo e indulgência. Brasil e Itália possuem um perfil diferente baseados nesses critérios.
Os resultados apresentam evidências sobre as associações entre os usuários da Apple no Brasil e na Itália. No Brasil, há uma correlação positiva com a mente aberta (OM) e o capital de cliente (CC), enquanto na Itália há uma associação mais forte com o contra conhecimento (CK) e a inovação ambiental (EF). Essas discrepâncias podem ser atribuídas às dimensões culturais que moldam as percepções das pessoas e, consequentemente, suas interações com organizações.
Este artigo faz uma contribuição significativa ao fornecer às organizações uma conscientização sobre as diferentes culturas nacionais e o papel que desempenham na gestão do conhecimento. As organizações podem subestimar o poder das dimensões da cultura nacional e o impacto significativo que têm nos KMs. Portanto, as organizações teriam que considerar modificações apropriadas nas estratégias e KMs em diferentes contextos nacionais.