Em muitas organizações, expressar opiniões contrárias ainda é visto como um risco. Funcionários hesitam em questionar decisões, propor mudanças ou apontar falhas por medo de reações negativas ou até mesmo retaliação.
Mas como avançar em direção a uma liderança mais colaborativa se não há espaço para o diálogo aberto e honesto? Uma pesquisa recente sugere que a resposta pode estar em algo pouco conhecido fora do meio acadêmico: o pacto parresiástico, um acordo para permitir e valorizar o diálogo franco dentro das equipes.
O estudo foi conduzido por Renato Souza e Thomaz Wood Jr., da FGV EAESP, em parceria com Brad Jackson, da Waikato Management School, na Nova Zelândia, e publicado na revista Organization Studies.
Durante 11 meses, o primeiro autor acompanhou de perto uma equipe de alta gestão de uma grande empresa industrial brasileira. O grupo, com 14 profissionais, experimentava um modelo de liderança rotativa e menos hierárquico. O pesquisador acompanhou reuniões e realizou entrevistas para compreender como o diálogo franco e a fala corajosa influenciava a dinâmica de liderança.
Liderança em transição
Ao fazer o “pacto do diálogo franco”, os participantes se comprometem a falar com franqueza — mesmo que isso gere desconforto — e a escutar com abertura, especialmente aqueles que têm menos poder formal. Essa postura demanda coragem e um ambiente seguro, onde o erro e a crítica não resultam em punições.
O estudo mostrou que, com o tempo, os membros do grupo aprenderam a se posicionar com mais firmeza, confrontando inclusive superiores hierárquicos. Esse movimento exigiu uma mudança também do líder do grupo, que começou a ouvir mais, perguntar mais e controlar menos. Ainda assim, muitos hesitavam: sentiam que dizer a verdade poderia custar uma promoção ou abalar relações profissionais.
Os desafios da liderança compartilhada
Apesar da boa intenção de adotar um modelo mais participativo, muitos integrantes demonstraram dúvidas e receios. Alguns acreditavam que o excesso de debates e discussões atrasava decisões importantes. Outros se perguntavam quem, afinal, era responsável pelo quê. Essas tensões são naturais, apontam os autores da pesquisa, e não devem ser evitadas, desde que exista um espaço respeitoso para enfrentá-las.
Por fim, a pesquisa destaca que a fala franca não é apenas uma técnica de comunicação — ela é um ato de coragem que pode redefinir relações de poder, fortalecer a confiança e abrir caminhos para decisões mais éticas e colaborativas.
Para que a liderança compartilhada seja mais do que um discurso, é preciso nutrir culturas organizacionais que reconheçam o valor da diversidade de posições, da escuta ativa e da construção conjunta de soluções. Em resumo, liderar junto exige não só dividir tarefas, mas também criar espaço para a verdade — mesmo quando ela incomoda.
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