A crescente urgência por ações contra as mudanças climáticas tem impulsionado governos e empresas a buscar soluções mais eficazes. Uma das ferramentas que vem ganhando destaque é o mercado de carbono, onde empresas negociam permissões para emitir gases de efeito estufa. Mas, para que esse mercado realmente contribua com a transição para uma economia mais sustentável, é fundamental que funcione de forma eficiente. Ou seja, que os preços reflitam as informações corretas e ajudem empresas a tomar decisões bem fundamentadas.
Publicado na revista Applied Economics, o estudo é assinado pela pesquisadora da FGV EAESP Natalia Diniz-Maganini, em coautoria com Ajith Venugopal e Abdul Rasheed. Os autores analisaram dados diários do índice S&P GSCI Carbon Emission Allowances (EUA) EUR e do índice S&P GSCI de commodities entre 2010 e 2024. Eles utilizaram janelas móveis de sete anos e técnicas da física aplicadas à economia para entender a evolução da eficiência dos preços nesse mercado e como ele se relaciona com o mercado de commodities.
O mercado de carbono está em evolução para combater as mudanças climáticas
A principal conclusão do estudo é que o mercado europeu de carbono (EU ETS) vem amadurecendo, com melhora consistente em sua eficiência de preços. Isso significa que os preços das permissões de emissão estão refletindo cada vez melhor as informações relevantes do mercado. Além disso, essa evolução é importante porque permite que empresas façam escolhas mais racionais sobre investimentos em tecnologias sustentáveis e redução de emissões.
Outro dado relevante é o aumento da correlação entre os preços de carbono e os preços de commodities, como petróleo e produtos agrícolas. Em 2010, essa conexão era fraca, mas se fortaleceu ao longo dos anos, atingindo índices mais estáveis entre 2016 e 2022. Portanto, o mercado de carbono está se integrando ao ecossistema mais amplo dos mercados financeiros e de energia.
Para empresas, preços de carbono eficientes ajudam na tomada de decisões sobre quando e quanto investir em tecnologias de redução de emissões. Por outro lado, um mercado ineficiente pode levar a escolhas erradas — seja por subestimar ou superestimar o custo futuro do carbono.
Já para investidores e formuladores de políticas, o amadurecimento do mercado é um bom sinal. Ele indica maior confiança e estabilidade, além de mostrar que instrumentos de mercado podem, sim, ser aliados no combate às mudanças climáticas — desde que bem estruturados.
Mercado híbrido: governo e mercado de mãos dadas
Diferente de mercados financeiros tradicionais, o mercado de carbono depende de decisões governamentais, como limites de emissão e penalidades. Isso o torna um sistema híbrido: ao mesmo tempo em que usa mecanismos de mercado (compra e venda de licenças), é moldado por políticas públicas.
O estudo conclui que, apesar da melhora, ainda há espaço para aperfeiçoar a eficiência do mercado. Investir em transparência, fiscalização e padronização de dados pode tornar os mercados de carbono mais eficazes globalmente.
Por fim, a pesquisa reforça que mercados de carbono eficientes são fundamentais para atingir metas de redução de emissões. O EU ETS está no caminho certo, mas é preciso seguir avançando. Ademais, governos, empresas e investidores têm papéis complementares nessa jornada. Como mostra o estudo, um mercado bem desenhado pode ser uma poderosa ferramenta na luta por um futuro mais verde.
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