Organizações de todos os tipos e portes utilizam o planejamento estratégico para direcionar suas ações. Entretanto, há relativamente pouco conhecimento sobre como esse processo acontece em organizações de propriedade mista, como joint ventures que combinam características do setor público e privado.
Gestores de join ventures deste tipo devem considerar a dimensão social e a dimensão política do processo estratégico para poder enfrentar os desafios inerentes a associações dessa natureza.
Os pesquisadores da FGV EAESP, Thomaz Wood Jr, Marco Pasturino e Miguel Caldas, publicaram um estudo de caso na Journal of Business Strategy para explorar o planejamento estratégico em uma join venture de serviços financeiros. Eles acompanharam a organização por cinco anos, realizando entrevistas, participando de workshops e reuniões, e analisando documentos internos. A join venture, formada por empresas com diferentes estratégias, gestão e culturas, revelou-se um contexto complexo e propício a conflitos.
Os autores observaram que o planejamento estratégico tinha uma dimensão ‘formal’, materializada em práticas, atividades e eventos bem conhecidos. Entretanto, por detrás dessa ‘camada formal’ ocorriam processos de interação e decisão, não tão visíveis, mas que tinham papel importante no direcionamento estratégico da organização.
O planejamento estratégico na empresa desempenhava três papéis: prática utilitária, narrativa simbólica e mediador de conflitos.
Ao investigar a dimensão formal do planejamento, em conjunto com seus ‘bastidores’, os pesquisadores descobriram que o processo tinha três papéis principais. O primeiro papel é o de prática utilitária, que estabelece fluxos de análise, reflexão e decisão. O segundo papel é o de narrativa simbólica, relacionado a prover coerência e sentido de identidade organizacional aos funcionários. O terceiro papel é de rotina mediadora de conflitos, relativa ao tratamento das divergências explícitas e implícitas entre acionistas controladores.
O estudo também revelou que o orçamento, e não o planejamento estratégico, era a principal prática estratégica. Os dois acionistas definiam as diretrizes estratégicas e as materializavam no orçamento, criando um sistema dual de planejamento estratégico e orçamento que não interagia adequadamente, gerando ambiguidade e tensões. Apesar disso, o planejamento estratégico ganhou ao longo do tempo status como uma prática para mediar conflitos entre acionistas.
A pesquisa contribui para a compreensão das rotinas organizacionais ao mostrar como uma rotina de alto nível, como o planejamento estratégico, pode evoluir para desempenhar o papel fundamental de uma prática regulatória capaz de mediar conflitos entre acionistas em uma grande organização.
Os pesquisadores recomendam que gestores vejam o planejamento estratégico mais do que como um processo técnico e analítico, e sim como uma prática social que pode adquirir outras funções relevantes para a gestão de ambientes complexos.
Leia o artigo na integra.