A expansão da pecuária na Amazônia tem chamado a atenção de pesquisadores, ambientalistas e consumidores ao redor do mundo. Embora seja uma importante atividade econômica, ela também está entre as principais causas de desmatamento na região. Uma nova pesquisa mostra que é possível tornar essa cadeia mais sustentável — mas o tempo para agir está se esgotando. Porém, a boa notícia é que a solução está no trabalho conjunto entre governo, setor privado e sociedade civil.
Publicado na revista The International Journal of Logistics Management, o estudo foi conduzido pelos pesquisadores John James Loomis e José Antônio Puppim de Oliveira, da FGV EAESP, com apoio da FAPESP. O foco da pesquisa foi o município de Santarém (PA), onde a pecuária tem avançado rapidamente. Utilizando uma nova metodologia de mapeamento da cadeia global de valor (CGV), os autores analisaram entrevistas, dados de campo e documentos públicos e privados para entender os desafios da sustentabilidade nesse contexto.
Falta de políticas públicas abre espaço para o desmatamento na pecuária da Amazônia
O estudo revelou que o avanço da pecuária ocorre devido a uma grande demanda do mercado internacional, mas num vácuo de políticas públicas efetivas. Dessa forma, pequenos produtores têm pouco acesso a crédito, infraestrutura, assistência técnica ou programas de regularização fundiária. A baixa capacidade de fiscalização permite a continuidade de práticas ilegais, como o desmatamento. Além disso, a cadeia de valor da carne, especialmente no que diz respeito aos fornecedores indiretos — que vendem o gado para outros criadores antes que ele chegue aos frigoríficos — ainda escapa de sistemas de controle, representando um risco real para compromissos ambientais já assumidos por grandes empresas.
Apesar da ausência de políticas fortes, há sinais de mudança. Frigoríficos têm adotado sistemas de rastreabilidade para fornecedores diretos. ONGs e projetos locais vêm treinando pecuaristas para melhorar a produtividade e reduzir impactos ambientais. Ainda assim, a escala dessas iniciativas é pequena e os resultados, limitados. Portanto, muitos produtores mantêm práticas herdadas de gerações anteriores e não veem valor econômico na adoção de certificações de sustentabilidade.
A pesquisa aponta que a governança da cadeia precisa ser compartilhada. Frigoríficos podem liderar melhorias tecnológicas e oferecer assistência técnica. Enquanto governos precisam fortalecer a fiscalização e oferecer políticas públicas efetivas para apoio a uma pecuária sustentável e de qualidade. Já as ONGs devem expandir projetos de impacto e produtores devem se formalizar e adotar boas práticas. O fortalecimento de associações e a criação de padrões comuns de rastreabilidade também são cruciais para premiar quem faz a coisa certa.
Sustentabilidade e competitividade podem andar juntas
O estudo mostra que, com esforço coordenado, é possível uma melhor conciliação de desenvolvimento socioeconômico e controle ambiental na Amazônia. A adoção de práticas sustentáveis não é apenas uma exigência ambiental, mas uma condição para competir em mercados cada vez mais exigentes. Se o setor não avançar internamente em direção à sustentabilidade, reguladores e mercados estrangeiros definirão os rumos da produção. Por fim, a cadeia da carne bovina no Brasil tem a oportunidade — e a responsabilidade — de liderar esse movimento.
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