O federalismo brasileiro, com sua descentralização crescente, tem atribuído responsabilidades cada vez maiores aos estados e municípios na implementação de políticas públicas. Nos últimos 30 anos, a ampliação do papel dos municípios, em especial, tornou-se crucial para o oferecimento de serviços essenciais, como saúde e saneamento básico. Nesse cenário, as burocracias subnacionais – os funcionários públicos estaduais e municipais – passaram a desempenhar um papel estratégico, porém pouco estudado em comparação com a administração pública federal.
Os pesquisadores Eduardo Grin e o aluno do doutorado Danilo Gonçalves, da FGV EAESP, realizaram uma análise bibliométrica utilizando dados da base Scopus, coletando informações de quase 3 mil textos internacionais e quase 70 nacionais. A metodologia incluiu técnicas de mineração de texto, como nuvens de palavras e análise de correlação, para identificar os principais temas debatidos sobre burocracias subnacionais. O artigo foi publicado na revista Cadernos Gestão Pública e Cidadania.
Assim, o estudo revela que as burocracias subnacionais, ou seja, municipais e estaduais, cresceram significativamente nas últimas décadas.
Municípios vem assumindo papel central na oferta de serviços públicos após a Constituição de 1988. Desde o ano 2000, o contingente de funcionários municipais quadruplicou, enquanto o número de servidores estaduais cresceu 50%. Contudo, a expansão trouxe desafios, como a necessidade de modernização gerencial e maior capacidade técnica para lidar com a diversidade de atribuições. Os funcionários públicos municipais representam cerca de 2/3 do total de servidores públicos do país, o que reforça a importância de se estudar as burocracias subnacionais.
A pesquisa também destaca a falta de estudos sobre a politização das burocracias subnacionais. A autonomia constitucional dos municípios e estados, aliada à descentralização das políticas sociais, como saúde e habitação, aumentou a importância de servidores públicos capacitados. No entanto, a profissionalização ainda enfrenta desafios, com disparidades regionais e socioeconômicas afetando a eficiência e equidade na oferta de serviços.
O mapeamento bibliográfico mostra que, apesar do aumento das responsabilidades subnacionais, a literatura nacional sobre o tema se desenvolve menos em comparação com a internacional. Pesquisadores exploram pouco, no Brasil, temas como governança e participação da sociedade civil. Além disso, o estudo sugere a necessidade de mais pesquisas quantitativas e estudos de caso sobre a estrutura das burocracias e seu impacto na implementação de políticas públicas. Por fim, o conhecimento dessas burocracias é essencial para o aprimoramento da gestão pública em estados e municípios. Isso pode garantir maior eficiência e equidade no acesso a serviços essenciais.
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