Em um artigo que se apoia na metáfora do movimento dos peões em um jogo de xadrez, pesquisadores da FGV EAESP demonstram as desigualdades que existem nas cadeias de valor globais (Global Value Chains) por meio de uma análise da cadeia de fornecimento de vacinas contra a Covid-19.
Segundo os autores, a distribuição desigual de vacinas entre o Norte Global e o Sul Global é moldada pela concentração de atividades de alto valor agregado (como o desenvolvimento e a produção de vacinas) no Norte Global, com o apoio de políticas econômicas nacionalistas.
“São políticas míopes, porque não levam em consideração os riscos à saúde que baixas taxas de vacinação no Sul Global podem acarretar, não apenas para o Norte Global, mas para o mundo todo”, alertam os pesquisadores.
O estudo aponta para dois cenários possíveis. No primeiro, os fornecedores regionais de países de baixa e média renda do Sul Global permaneceriam como atores de pouca importância na cadeia global de abastecimento de vacinas, mantendo as desigualdades exatamente como existem hoje.
Outro cenário possível seria modernizar a atuação destes mesmos fornecedores na cadeia global de abastecimento de vacinas, por meio de políticas públicas e amparo e fomento à infraestrutura e à padronização tecnológica, de maneira que essa cadeia de suprimentos pudesse assumir uma configuração policêntrica.
“A persistente concentração da governança das Cadeias de valor Globais no Norte Global não apenas pode agravar as desigualdades atuais, como também provavelmente levará a vulnerabilidades sociais, econômicas e de saúde no mundo todo”, argumentam os pesquisadores.