Para auxiliar no combate à mortalidade infantil, o setor público deve ampliar o acesso a cirurgias cardíacas emergenciais para crianças. Atualmente, uma em cada três crianças encaminhadas para assistência cirúrgica não conseguem acessar o tratamento, aumentando a probabilidade de óbito. Em condições mais graves, que necessitam de procedimentos mais complexos, a taxa é ainda maior. Já no contexto da pandemia, entretanto, o tempo de espera para os procedimentos diminuiu significativamente. Para melhorar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento especializado de cardiopatias por crianças, os hospitais públicos devem investir em infraestrutura e aumentar sua capacidade de realizar procedimentos cirúrgicos complexos – caso da cirurgia cardíaca neonatal.
A informação está em estudo publicado pelos pesquisadores da FGV EAESP Maira Marasca de Oliveira, Gonzalo Vecina Neto, Ana Maria Malik e Reinaldo Sergio Hamamoto no periódico “Jornal de Pediatria”. Para analisar a disponibilidade de tratamento cirúrgico para doenças cardíacas congênitas em centros públicos especializados do estado de São Paulo, bem como o impacto da pandemia de Covid-19 no processo, a pesquisa analisou a experiência de 1.437 crianças menores de um ano de idade com cardiopatias congênitas e encaminhamento para cirurgia cardíaca, entre fevereiro de 2019 e 2021, respectivamente.
Atendimento hospitalar é insuficiente para atender todas as demandas por cirurgia cardíaca de crianças
A pesquisa mostra que a oferta atual de procedimentos cirúrgicos é insuficiente para lidar com a alta demanda de crianças portadoras de cardiopatias. Além do número considerável de crianças que não conseguem acesso ao tratamento – cerca de um terço do total – os pesquisadores apontam para o alto número de interferências do sistema de justiça no processo, muitas vezes acionado pelos pacientes na tentativa de diminuir o tempo de espera para uma cirurgia. As evidências apontam para uma necessidade de maior capacidade dos centros médicos em atuarem no tratamento cirúrgico de cardiopatias congênitas, ressaltam os autores.
O estudo também indica a média de tempo de espera desde o encaminhamento até a realização das cirurgias emergenciais: em casos mais leves, a espera foi de três a quatro dias, enquanto nos casos mais severos, cerca de sete dias. Na pandemia, foi observada uma redução na média de espera geral de cinco para três dias, o que pode ser atribuído ao cancelamento de cirurgias eletivas que ocorreu no período, aumentando a capacidade dos hospitais em realizar procedimentos urgentes. Em pesquisas futuras, a sugestão dos autores é investigar os potenciais fatores que podem contribuir para driblar essa lacuna na assistência médica, como melhor acesso ao cuidado pré-natal, melhorias no diagnóstico e aumento de recursos financeiros para cirurgias cardíacas complexas.