Pessoas jovens das classes D e E e sem ensino superior foram as que mais sofreram efeitos psicológicos do isolamento social imposto pela chegada da covid-19 ao Brasil. É o que aponta estudo de Cleber da Costa Figueiredo, pesquisador da FGV EAESP, em parceria com Mariana Malvezzi e Flávia Feitosa Santana, pesquisadoras da Escola Superior de Propaganda e Marketing, publicado na revista “Estudos de Psicologia”.
O estudo foi realizado em maio de 2020, durante a primeira fase da pandemia no Brasil, com base nas respostas de 400 pessoas das cinco regiões do país. O objetivo da pesquisa foi avaliar o bem-estar psicológico da população brasileira durante o período de quarentena. Além do temor de contaminação pelo vírus, a covid-19 provocou luto, sobrecarga emocional e instabilidade econômica.
O conceito de bem-estar psicológico, trabalhado pelos autores, considera a saúde a partir do contexto histórico e social, de uma perspectiva multidisciplinar. O modelo de análise proposto é baseado em teorias humanistas da psicologia e considera o bem-estar do indivíduo a partir das seguintes dimensões: autoaceitação, relações positivas com os outros, autonomia, domínio ambiental, propósito na vida e crescimento pessoal.
O estudo verificou a aplicação dessas dimensões a características demográficas da população brasileira de idade, escolaridade e renda. Pessoas das classes D e E tiveram níveis mais baixos de bem-estar psicológico na dimensão crescimento pessoal, que se refere ao senso de realização de seu potencial. Já indivíduos das classes A e B apresentaram maior domínio ambiental, ou seja, tiveram mais oportunidade de acessar os recursos disponíveis ao redor – como um lar protegido.
O bem-estar psicológico em domínio ambiental, autonomia e autoaceitação foi superior na população idosa, o que indica maiores competências socioemocionais na maturidade. A pesquisa também apontou que pessoas sem ensino superior apresentaram níveis menores em todas as dimensões , e tendem portanto a sofrer mais com o isolamento social.