Cuidar da saúde não é só tratar doenças. Cada vez mais, fala-se na importância de um modelo que coloque o paciente no centro das decisões, levando em conta sua história, contexto social, emocional e cultural. Essa abordagem — chamada de cuidado centrado no paciente — valoriza o envolvimento ativo da pessoa atendida e de seus familiares nos caminhos do tratamento. Mas como essa ideia tem sido aplicada pelas operadoras de planos de saúde no Brasil?
Os pesquisadores Ana Maria Malik e Alberto Ogata (FGV EAESP), em parceria com Mariana Jordão Di Chiacchio e Iara Bernz investigaram como gestores de operadoras de saúde percebem o cuidado centrado no paciente. Publicaram o estudo na Revista Brasileira de Saúde Suplementar.
Para isso, os autores ouviram oito gestores de diferentes regiões e formações (Medicina, Enfermagem e Administração). A metodologia usada foi qualitativa, com entrevistas analisadas por meio da técnica de análise de conteúdo de Bardin, uma ferramenta comum em estudos sociais.
O que os gestores pensam sobre o cuidado centrado no paciente
Os entrevistados reconhecem que um cuidado mais integrado e personalizado é essencial para melhorar a qualidade da assistência. No entanto, também apontam obstáculos importantes — como o atual modelo da saúde suplementar, fragmentado e excessivamente centrado em especialidades. Nesse cenário, há pouca comunicação entre os profissionais e ausência de coordenação efetiva do cuidado. Além disso, a falta de integração entre os sistemas de informação dificulta uma visão completa da trajetória de cada paciente. Para muitos gestores, sem acesso unificado aos dados, não é possível oferecer um cuidado de qualidade e bem coordenado.
Mudança de cultura e foco no empoderamento do paciente
Outro ponto destacado no estudo é que essa transformação exige uma mudança cultural profunda nas operadoras de saúde. Elas precisam ir além da lógica da oferta de serviços e adotar um olhar voltado para a saúde da população. Isso passa por educar e empoderar os pacientes, ajudando-os a compreender e participar mais ativamente de seus cuidados.
A substituição do termo “paciente” por “cliente”, apontada pelos entrevistados, revela uma tentativa de focar mais na experiência de quem utiliza o serviço — algo cada vez mais valorizado no setor.
Embora a implementação do cuidado centrado no paciente envolva custos e desafios, os entrevistados acreditam que esse modelo pode trazer ganhos em eficiência e reduzir desperdícios no longo prazo. Ferramentas como sistemas de business intelligence (BI), acreditações e protocolos clínicos padronizados são vistas como aliadas importantes nesse processo
Por fim, o estudo reforça que a liderança dos gestores é fundamental para alinhar práticas internas e incentivar um modelo de saúde mais humano, eficiente e sustentável. Tudo isso com foco genuíno no bem-estar das pessoas.
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