Barreiras estruturais restringem mercado de títulos verdes no Brasil

FOTO: MICHEILE HENDERSON / UNSPLASH

Um ambiente macroeconômico e jurídico estável contribui para o desenvolvimento do mercado de títulos verdes. É o que encontrou o estudo realizado por pesquisadores do Centro de Estudos em Sustentabilidade (FGVces) da FGV EAESP, do Centro de Estudos do Agronegócio (FGV Agro) da FGV EESP e do Imperial College London, publicado em 5 de junho no periódico “Journal of Sustainable Finance & Investment”.

Os títulos verdes, ou green bonds, são títulos de dívida em que o emissor capta recursos para financiar exclusivamente projetos com adicionalidade ambiental, como energia renovável, eficiência energética, transporte de baixo carbono e projetos florestais. Aumentar fluxos financeiros para a mitigação e a adaptação climática é essencial para que o Brasil alcance os compromissos assumidos no Acordo de Paris. Por exemplo, estima-se que são necessários investimentos entre R$ 347 bilhões e R$ 581 bilhões em fontes de energias renováveis no país.

No estudo, foram realizadas entrevistas com nove atores do mercado de capitais: três organizações de gestão de ativos, duas associações de investidores, três organizações que promovem investimentos sustentáveis e uma entidade governamental. As organizações foram selecionadas por representarem atores envolvidos na gestão ou na promoção de investimentos de baixo carbono. Um levantamento na literatura de possíveis barreiras para o mercado de títulos verdes serviu de guia para as entrevistas.

A pesquisa conclui que as condições que promovem o mercado de títulos convencional também contribuem para o desenvolvimento do mercado de títulos verdes. Foram apontados que o ambiente político estável, estabilidade macroeconômica, proteção legal adequada a investidores e um sistema judicial confiável contribuem para que investidores tenham maior confiança para realizar investimentos de longo prazo. “A observância a essas condições é ainda mais relevante em países em desenvolvimento, em virtude de suas fragilidades institucionais”, diz Camila Yamahaki, pesquisadora do FGVces e uma das autoras do artigo.

Também foram avaliadas barreiras específicas dos títulos verdes. Segundo os entrevistados, os custos relacionados aos títulos verdes, como a necessidade de parecer de segunda opinião e auditoria independente dos relatórios anuais, não são impeditivos se comparados com o volume médio de emissão dos títulos verdes. Por outro lado, apontaram que há poucas empresas com capacidade financeira de emitir títulos com o volume exigido por investidores e que o retorno ajustado ao risco é percebido como baixo.

“A análise dos desafios para o desenvolvimento do mercado de green bonds tem como objetivo contribuir para uma discussão de política pública, apontando quais as condições necessárias para o seu desenvolvimento”, afirma Camila Yamahaki. Segundo a pesquisadora, o próximo passo seria analisar barreiras para o aumento de investimentos privados em setores específicos de baixo carbono.

Acesse no link o artigo “Structural and specific barriers to the development of a green bond market in Brazil”.

 

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