Parcerias entre empresas e organizações sem fins lucrativos (ONGs) unem recursos e experiências para gerar impacto social e ambiental. Empresas ganham credibilidade, inovação e engajamento interno; já as ONGs recebem apoio financeiro e operacional para suas causas. No entanto, essas relações também envolvem riscos: empresas podem sofrer críticas sobre suas práticas e organizações podem ter sua reputação prejudicada se associadas a escândalos de corrupção.
No Brasil, esse equilíbrio foi abalado pela Operação Lava Jato (2014), que expôs um esquema de corrupção entre empresas e governo. O episódio provocou queda drástica na confiança pública em ambos os setores, mas aumentou a credibilidade das ONGs, vistas como mais transparentes e essenciais para enfrentar problemas socioambientais.
As pesquisadoras Marina Gama (FGV EAESP) e Aline Gatignon conduziram um estudo e o publicaram na Academy of Management Journal. Elas analisaram dados de todas as empresas de capital aberto e organizações sem fins lucrativos no Brasil entre 2010 e 2017, totalizando milhares de relatórios anuais, informações de conselhos de administração, doações de campanha e artigos da mídia. Além disso, as autoras realizaram entrevistas com líderes empresariais, gestores de ONGs, acadêmicos e representantes políticos.
O que muda após escândalos de corrupção
Os resultados mostram que, depois da Lava Jato, muitas empresas buscaram se aproximar de organizações sem fins lucrativos como forma de demonstrar compromisso social. No entanto, o tipo de parceria passou a ser mais seletivo:
- Empresas envolvidas direta ou indiretamente no escândalo tiveram mais dificuldade para fechar colaborações, pois as ONGs temiam danos à própria imagem.
- Organizações com vínculos políticos ou empresariais fortes também evitaram novas parcerias, receosas de serem percebidas como cúmplices de interesses privados.
- Houve menos espaço para usar parcerias como ferramenta de “limpeza” de reputação ou influência política.
Essa cautela, por outro lado, abriu espaço para parcerias mais autênticas e focadas em resultados socioeconômicos concretos. Isso diminui a lógica puramente estratégica e ampliando a colaboração com objetivos reais de impacto social.
Por que isso importa
O estudo revela que crises institucionais profundas não apenas enfraquecem laços tradicionais, mas podem redesenhar a rede de parcerias entre empresas e sociedade civil. Entender essa dinâmica ajuda gestores a planejar estratégias mais transparentes e sustentáveis, evitando riscos de reputação e fortalecendo a confiança pública.
Além disso, para formuladores de políticas e para a sociedade, a pesquisa oferece pistas sobre como garantir que parcerias intersetoriais sirvam ao interesse coletivo — e não apenas a objetivos corporativos.
Em tempos de desconfiança generalizada, o valor de uma parceria não está apenas nos recursos que ela mobiliza, mas na confiança que é capaz de inspirar.
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