A experiência em atividades físicas como corrida e natação são práticas de consumo que, em conjunto com outras práticas, ordenam a vida cotidiana. No caso de praticantes de esportes, a rotina é delimitada por uma orquestração de práticas, como a realização de exercícios complementares para manter o desempenho e a alimentação saudável, por exemplo. Portanto, as práticas recorrentes e associadas ao objetivo principal geram uma experiência temporal mais ampla, ou seja, seus efeitos e benefícios são duradouros.
A constatação é de artigo dos pesquisadores da FGV EAESP Benjamin Rosenthal e Eliane Pereira Zamith Brito publicado na revista “Marketing Theory”. Os pesquisadores realizaram 25 entrevistas com 15 corredores e 10 nadadores que vivem em São Paulo e praticam essas atividades há mais de dois anos. Um dos autores também utilizou a observação participante em seu ambiente de prática de atividade física para interpretar os dados das entrevistas.
Os autores propõem o conceito de ritmos globais de práticas de consumo para se referir à integração de hábitos de consumo. Assim, o desalinhamento das práticas está associado a uma “arritmia”, constatada no relato de nadadores ou corredores que sentem irritação, ansiedade ou cansaço após períodos sem realizar atividades físicas.
Além do benefício pessoal, essas práticas estão relacionadas com o envolvimento social. No caso dos esportes estudados, o pertencimento a uma comunidade de atletas impacta diretamente na experiência dos praticantes, que relatam identificação com pessoas jovens, saudáveis e alegres. Os pesquisadores apontam que os ritmos globais podem contribuir para a literatura sobre a formação de valor das experiências recorrentes de consumo, e podem ser úteis para entender práticas que ocorrem no cotidiano dos espaços urbanos.