Para consolidar a relevância de seus estudos, pesquisadores das áreas de administração e organizações são cada vez mais cobrados a publicar em periódicos internacionais de alto impacto em língua inglesa. Essas exigências, porém, tendem a desconsiderar os desafios de estudiosos vindos de países periféricos, como o Brasil, na adaptação da linguagem utilizada para compartilhar o conhecimento produzido.
A provocação é feita pelos pesquisadores da FGV EAESP Amon Barros e Rafael Alcadipani em ensaio publicado na revista “Management Learning”. Mais do que dominar outro idioma, os acadêmicos brasileiros precisam aprender a traduzir ideias, aproximando seus escritos de padrões dominantes dos trabalhos europeus e estadunidenses. O texto denomina esse processo de “dupla tradução”.
Outra desvantagem dos acadêmicos do Sul global são os custos para traduzir para o inglês e submeter um trabalho em periódicos internacionais. Tais despesas são significativas tendo em vista os valores de bolsas e salários recebidos pelos pesquisadores brasileiros.
Os autores alertam que esta prática colonial em que o Norte global é o principal caminho de publicação pode tirar o foco da discussão sobre questões locais feita com o uso do idioma nativo. Neste sentido, redes de internacionalização alternativas, formadas entre pesquisadores de países do Sul global, também podem ser desestimuladas por não terem a chancela de instituições do Norte global.