Dados da Pesquisa de Endividamento do Consumidor (CNC) apontam que 70% do endividamento dos consumidores brasileiros tem origem em empréstimos de altos juros (como o rotativo do cartão de crédito). Pesquisa realizada pelo BACEN sugere que a maioria da população não tem uma reserva financeira que possa atender a eventuais emergências levando a baixos níveis de bem-estar financeiro, que por sua vez leva a inúmeros outros problemas. Por exemplo, a depressão e a baixa produtividade, que prejudicam não apenas aquele indivíduo que passa por uma situação financeira complicada, mas a sociedade como um todo.
Aprofundando-se nesse assunto, um estudo publicado no European Journal of Marketing que pesquisou 1.288 consumidores brasileiros (maiores de 18 anos com experiência com o uso de crédito) revelou que existem hoje pessoas que erroneamente acreditam que os limites de crédito fazem parte de sua renda e outras que se sentem ansiosas ao pensar em assuntos relacionados a dinheiro. Indivíduos com tal crença e ansiedade tendem a ter comportamentos que podem vir a prejudicar seu bem-estar financeiro.
O estudo aponta que um comportamento normalmente negligenciado e que é danoso ao bem-estar financeiro são as compras realizadas de forma impulsiva, uma vez que essa leva a altos níveis de endividamento. Esses altos níveis de endividamento se transformam em obstáculo para a preparação de reservas financeiras de emergência, aquelas reservas capazes de atender a situações pontuais emergenciais, como uma urgência de saúde que demande recursos, por exemplo.
Esses resultados levaram as autoras da pesquisa a sugerir que instituições financeiras devem assumir maior responsabilidade no apoio aos consumidores de seus produtos, mais especificamente no sentido de conscientizá-los sobre a melhor forma de utilizar os serviços financeiros a que eles têm acesso, bem como um cuidado maior ao oferecer acesso a crédito para consumidores que possuem essas crenças e/ou tendências de comportamentos ansiosos ou impulsivos.
Outro ponto que as autoras alertam refere-se a importância da regulação das instituições financeiras por órgãos governamentais, que devem garantir que as empresas do setor estejam atuando de maneira justa com seus clientes. Instituições governamentais devem estabelecer regras que não permitam que empresas predatórias se aproveitem da vulnerabilidade financeira do consumidor (como a tendência a um alto nível de endividamento) ou de seu baixo nível de informação (como o conhecimento em finanças).
“Ao tomar ciência de que o limite de crédito pode ser entendido pelo indivíduo como parte de sua renda, e que isso afeta negativamente seu bem-estar financeiro, empresas – em especial instituições financeiras- devem oferecer programas educacionais que visem esclarecer o melhor uso de crédito e fomentar que seus clientes tenham orçamento e planejamento organizados, evitando assim entrar em altos níveis de endividamento”, explica Tânia Veludo de Oliveira, professora da FGV EAESP e uma das autoras da pesquisa.