A violência nas cidades afeta diretamente a sensação de segurança das pessoas e limita o uso dos espaços públicos. Em muitos casos, crimes de rua como furtos e roubos se concentram em pequenos trechos das cidades, os chamados hotspots. Mas, o que aconteceria se, ao invés de reagir ao crime, as autoridades redesenhassem esses locais com iluminação, policiamento e atividades culturais? Foi essa a aposta do programa Conjunto de Estratégias de Prevenção (CEP), analisado em uma nova pesquisa da FGV.
Os pesquisadores Julia Guerra, Joana Monteiro (FGV EAESP e FGV EBAPE) e Vinícius Pecanha, publicaram o estudo na Journal Economics Letters. A equipe analisou os efeitos do projeto piloto do programa CEP, lançado em 2021 no bairro do Méier, Zona Norte do Rio de Janeiro. Portanto, a ideia foi simples: melhorar a estrutura urbana e intensificar a presença da guarda municipal em um dos pontos mais críticos da cidade em relação aos crimes de rua.
Para isso, os pesquisadores usaram um método chamado diferenças-em-diferenças sintéticas — o que significa comparar o bairro que recebeu as melhorias com uma versão “virtual” do mesmo bairro, construída com base em outros bairros semelhantes que não passaram por nenhuma mudança. Assim, foi possível estimar o que teria acontecido no Méier caso o programa não tivesse sido implementado.
Melhorar os espaços urbanos também ajuda a prevenir crimes de rua
A pesquisa revelou que a combinação entre policiamento orientado e melhorias urbanas — como nova iluminação pública, instalação de câmeras, organização de ambulantes e eventos culturais — foi capaz de reduzir os crimes de rua em 32%. O principal impacto foi nos furtos, que caíram quase 60% no período analisado. Isso mostra que a presença do poder público no espaço urbano, aliada a intervenções simples, pode fazer diferença real no dia a dia da população.
O papel das prefeituras na prevenção do crime
O diferencial do CEP foi sua atuação preventiva. Assim, em vez de esperar que o crime aconteça para reagir, o programa se baseou em dados e mapeamento de áreas de risco para agir de forma coordenada. Com isso, a prefeitura deixou de ser apenas um agente passivo para se tornar protagonista na segurança pública local. O CEP é também um caso de inovação de parceria entre o setor público e a universidade. O Centro de Ciência Aplicada à Segurança (CCAS) da FGV/EBAPE desenhou o programa junto com a Secretaria de Ordem Pública do Rio de Janeiro, que por sua vez liderou a implementação, com o suporte técnico do CCAS.
Por fim, o estudo destaca que essa abordagem territorial pode ser aplicada em outras cidades brasileiras. Ao transformar espaços públicos e atuar em parceria com diferentes órgãos, o poder público consegue criar ambientes mais seguros, que estimulam a convivência social e reduzem as oportunidades para o crime.
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