Estudo publicado recentemente no “The Lancet Global Health”, um dos mais respeitados e conhecidos periódicos científicos de medicina, mostra que as desigualdades socioeconômicas afetaram muito mais o curso da pandemia no Brasil do que fatores normalmente associados a um maior risco para a Covid-19, como a idade, o estado de saúde ou até a presença das chamadas comorbidades.
Os pesquisadores da FGV EAESP Rudi Rocha e Adriano Massuda, em parceria com outros seis pesquisadores nacionais e internacionais, chegaram a essas conclusões cruzando informações disponíveis publicamente no país, dados referentes ao deslocamento das pessoas e um índice próprio de vulnerabilidades socioeconômicas (SVI, do inglês socioeconomic vulnerability index).
Os pesquisadores também revelam ter percebido uma situação especialmente adversa em estados e municípios que tinham índices de vulnerabilidade socioeconômica mais altos. “A resposta de governos locais e o comportamento da população nos estados e municípios mais vulneráveis socioeconomicamente contribuíram para conter os efeitos da pandemia”, ressaltam os autores, evidenciando que a experiência brasileira demonstra a importância da existência de políticas públicas e ações que possam proteger os cidadãos mais vulneráveis. Segundo os pesquisadores, esse tipo de atitude pode ser instrumental para a contenção da epidemia, especialmente nos contextos onde há inércia do governo central.
Confira o estudo na íntegra na “The Lancet Global Health“.
Figura: Distribuição espacial das vulnerabilidades socioeconômicas, riscos para a Covid-19, capacidade dos hospitais e taxa de mortalidade da Covid-19. O mapa mostra índices estaduais. Um índice 0 de vulnerabilidade socioeconômica indica os menos vulneráveis e um índice 1 indica os mais vulneráveis. ICU significa Intensive Care Unit (UTIs)