Principais órgãos de controle da administração pública do país, Tribunal de Contas da União (TCU) e Ministério Público Federal (MPF) utilizam suas contas no Twitter majoritariamente para promover suas atividades e, no caso do MP, destacar as atuações de integrantes específicos da instituição. Na comunicação do TCU e do MPF nas redes sociais, portanto, é menos recorrente a prestação de contas sobre suas atribuições, como execução orçamentária, financeira e patrimonial, fiscalização de políticas públicas e consultas à população.
Em artigo publicado na Revista de Administração Pública, pesquisadores da FGV EAESP analisaram, em um primeiro momento, a presença de 33 unidades dos Tribunal de Contas e das 28 unidades do Ministério Público no Twitter, Facebook e Instagram desde 2009, ano a partir do qual as instituições ingressam nessas redes sociais, até 2020. O Twitter é a rede mais utilizada por ambos, sendo que as postagens dos MPs representam quase o dobro das postagens dos TCs – 191 mil contra 100 mil. O Twitter do MPF é a conta com mais seguidores no período, 688 mil – quatro vezes mais do que o número de seguidores do TCU, 118 mil.
Ao analisar o conteúdo das postagens do MPF e do TCU no Twitter, na segunda etapa da pesquisa, os autores apontam similaridades entre a comunicação das instituições. O uso do termo “Youtube”, agrupado com termos como “rádio” e “ao vivo”, por exemplo, sinaliza que MPF e TCU utilizam a rede social para ampliar a audiência de seus eventos e agendas. O uso de termos como “divulgar” e “ação”, no caso do MPF, e “plenário” e “decisão”, no caso do TCU, corroboram o esforço de ambos em repercutir suas atividades. “MPF” e “TCU” são os termos mais utilizados nas respectivas contas, o que evidencia a predominância de conteúdo autorreferenciado.
A principal diferença entre ambos identificada pelo artigo é a recorrência de menções da conta do MPF à Associação Nacional dos Procuradores da República, o que indica a repercussão de interesses corporativos dos membros da instituição. O MPF também destaca nominalmente a atuação de integrantes como os procuradores-gerais da República Rodrigo Janot e Raquel Dodge, referenciados mais de 600 vezes cada um, e o promotor Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava-Jato em Curitiba, que recebeu 62 menções.
Os autores ressaltam, ainda, que a recorrência de termos técnicos nas postagens, como a citação a artigos de lei e o uso de conceitos como “licitação” e “pregão”, dificulta a compreensão da maioria da população e, portanto, prejudica a transparência dos órgãos. Uma comunicação em linguagem simples e acessível, por outro lado, poderia incentivar a participação democrática dos cidadãos na administração pública.